“Hei, turma! Vamos parar com isso! Senão eu ponho pra fora! Chamo a direção! Expulso da sala! Quem insistir com a bagunça vai ser reprovado!”
– Que medo!
Se tem uma coisa que apavora muitos professores, alunos, diretores e até pedagogos, é a bagunça na sala de aula. O que é “bagunça”? Por que ela apavora? Por que, erroneamente, causa estranhamento e recusa?
Está aí uma coisa que nunca me tirou o sono. Confesso até que sempre gostei de uma boa bagunça em sala de aula. Minha preocupação maior foi não atrapalhar as salas vizinhas, por causa do barulho, mas eu bem que curtia uma bagunça pedagógica. Alunos felizes, à vontade para brincar e relaxar, sem censura ou repressão, deixam fluir sentimentos e boas sensações. Sensações positivas são necessárias no processo ensino-aprendizagem. Alunos e professores tristes não aproveitam as boas coisas que existem numa escola.
Quem tem medo de bagunça tem medo de perder o controle, tem medo de perder o poder. E quem disse que controle é bom numa sala de aula? Numa escola? Quem quer controle deve ir a um quartel, a uma prisão. Controlar é compactuar com o medo, com o autoritarismo, com visões únicas. Antes perder o controle do que conviver com a mesmice, com a banalidade, com o óbvio. Quem controla quer impor vontades, quer cercear a criatividade, quer “peças” iguais e não gente.
Numa sala de aula, é sempre bom saber que professor e aluno aprendem juntos. É ilusão pensar que só o aluno aprende. Professores e diretores que pensam assim, que entendem o aprendizado numa única direção, na verdade desconhecem a verdadeira riqueza da educação. Educação é algo crítico, questionador, inovador, não há educação sem esses ingredientes, do contrário é treinamento, é instrução, de cima pra baixo, num único sentido, isto é, sem sentido! Isso funciona com cães, vacas e cavalos, com todo respeito a esses simpáticos animais, mas com gente é diferente.
Por isso, entendo que a bagunça pode ser um momento importante da sala de aula, é claro que não é só isso e nem o tempo todo, mas reprimir é arriscar a perder o verdadeiro significado da aprendizagem, é desconsiderar a riqueza que pode vir do processo. É da bagunça que podem surgir situações novas, que podem aparecer assuntos escondidos, indagações preciosas. Se, em algumas circunstâncias, bagunça lembra desordem; na vida ela é inevitável e não acaba nem quando a vida cessa.
Numa escola, a presença da ordem é artificial, é algo mecânico. Ninguém leva a vida sem alegria, com presença total de controle, só os robôs. E alunos não são robôs, pois estes já saem programados de fábrica e escola não é fábrica de robozinhos. Correto?
Posso dar uma sugestão? Deixe rolar uma bagunça às vezes, não reprima, observe seus alunos, tente tirar boas lições daí, entre na roda com eles, sintam-se leves e descomprometidos. Vai fazer bem para todos. Viva a bagunça!