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Besouros não sabem voar

Renato Muniz
Publicado em 04/11/2024 às 19:48
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Embora não sejam os mais atraentes em termos de aparência, têm nomes populares bastante encantadores. Não tenho uma preferência particular quando se trata de taxonomia. Refiro-me aos besouros, que pertencem à ordem dos coleópteros, assim como seus parentes próximos: joaninhas, escaravelhos, vaga-lumes e gorgulhos, entre outros que também fazem parte dessa mesma ordem. “Coleóptero”, ou “estojo de asas”, é uma palavra de origem grega, mas chega de referências científicas por hoje.

O que me espanta nos besouros de modo geral é o fato de serem desajeitados pra caramba. Se caem de cabeça para baixo pode ser o fim. Ficam pelejando até conseguirem desvirar ou morrerem à míngua. Tem algo a ver com a capa rígida que os protege? Prefiro não fazer conjecturas nem especular nesse terreno instável que mistura ficção e ciência. Quem quiser enveredar por aí fique à vontade!

As asas da maioria são insignificantes, mas eles voam e vão longe. Nas noites de primavera, após as primeiras chuvas, costumam aparecer em vários lugares. Onde eu moro, aparecem lá pelas seis horas da tarde. Nunca me incomodaram, afinal não picam, não mordem, não se enroscam nos cabelos.

O que eles querem? A luz. Sim, eles são fascinados pelo brilho da luz, seja a do fogão a lenha, a dos lampiões, a das lâmpadas e até a luz das telas do celular e a do monitor do computador. Quando eu vejo um besouro dar um voo rasante em direção ao meu computador, fico imaginando o encontro da pré-história com o futuro. Algo parecido com dinossauros do período Jurássico assistindo na televisão à notícia da iminente queda de um meteoro que mudaria a vida na Terra. Sendo dinossauros, não ligariam a mínima. Azar deles.

Voltando aos besouros, eis um bicho digno de ser estudado. Não que os demais não o sejam, mas os besouros se mostram, dão as caras, saem por aí e ocupam varandas, aproveitam janelas abertas e entram nos banheiros, vivem nos escombros das sociedades decadentes, nas praias, nas cavernas, nos desertos, nas árvores, nas rochas, são encontrados em ninhos de pássaros e até no estrume de vários animais. Esses são conhecidos como rola-bosta e os especialistas afirmam que têm uma importância capital para a saúde do meio-ambiente.

Não sei se são todos confiáveis, mas crianças são atraídas por eles. Elas acham bonitinha aquela bolinha voadora e desajeitada dando cabeçadas nas paredes e de repente mergulhando no prato de sopa. É um susto, acompanhado de risadas e, em alguns casos, choro. A culpa não é dos besouros nem das crianças. Besouros, embora comam de tudo — considerando as várias espécies —, não se alimentam de sopa, mas de plantas, matéria orgânica em decomposição, fungos e até do néctar de flores. São chiques esses besouros! Pena que alguns os considerem pragas e despejem veneno no ar. Seria bom rever seus conceitos.

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