Ao entrar numa residência, casa ou apartamento, seja grande, pequena, humilde, moderna, clássica, etc., não importam os critérios de avaliação, pergunte sempre pela biblioteca ou, se preferir, onde estão os livros da casa. Em muitos casos, estarão na sala principal, logo à entrada, às vezes ao lado da televisão. Pode ser que não, talvez existam um escritório, um estúdio ou um cômodo específico. Talvez estejam no quarto das crianças, se na casa existirem crianças, ou na despensa, ao lado da área de serviço, num quartinho no fundo do quintal... Pode ser que estejam em todos os cômodos, espalhados pela casa, dispostos em longas estantes. Bem, sem estresse, existem livros ali?
Triste será constatar que eles não têm lugar naquela residência. Pense em dar uma justificativa, inventar uma desculpa e ir embora. Numa casa sem livros é provável que também não existam canetas, papel, lápis, clips, borrachas, apontadores... Um mundo onde será difícil escrever um bilhete com “Eu te amo”, “Compre leite e pães” ou “Volto logo”. Dá para confiar em alguém em cuja casa não exista um livro sequer? Não acho razoável aceitar a alegação, muito frequente nos dias de hoje, de que os livros estão todos num aparelho eletrônico, no celular ou no notebook. Desculpa esfarrapada! Seria o mesmo que dizer que os quadros da casa, aqueles que deviam estar pendurados nas paredes, também estão armazenados em aparelhos eletrônicos ou que estão num dispositivo qualquer e serão projetados nas paredes quando for conveniente aos moderninhos proprietários. Ah, e as crianças? Que choros e risadas são essas? E aí vem a tão temida resposta: “Não existem crianças nesta casa, isso é uma gravação, assim como os pios e trinados que serão ouvidos quando estivermos na varanda”, justificariam os donos da tecnológica residência. Muito interessante, até ecológico, diriam uns e outros, capazes de elogiar o gesto de manter gaiolas sem pássaros, que aprisionam apenas a aparelhagem que reproduz belos sons da natureza selvagem. E as plantas? Seriam de plástico? Sustentabilidade? Vamos voltar à biblioteca, imaginando que exista, não importa o tamanho nem onde esteja.
Constatada sua existência, a conversa pode seguir rumos inusitados, fantásticos, infindáveis. Se ocorrer aquele silêncio característico das conversas de familiares que não se veem há tempos, não haverá constrangimentos, apenas reflexões e êxtase.
Bibliotecas podem revelar características peculiares de seus proprietários. Revelam profissões, interesses, gostos, preferências políticas e literárias, claro! Existem bibliotecas que são de fachada, meros adornos, enfeites na forma de livros, mas não devem ser desmerecidas, quem sabe um dia aqueles livros não serão lidos e admirados? Valeu a intenção... Existem bibliotecas de trabalho, de professores, revisores, editores, tradutores, pesquisadores e escritores, dentre outros. E existem as bibliotecas públicas, mas uma apreciação sobre elas ficará para outra ocasião. Falando nisso, vamos aproveitar para desejar saúde e vida longa à nossa Biblioteca Nacional, que fará 208 anos em 29/10/2018!