Acordei disposto a dar um cordial bom-dia às pessoas ao meu redor. Não quero deixar ninguém de fora, mesmo porque, como dizem uns e outros, “fora” não existe. Antes de tudo, é preciso assumir as responsabilidades em relação ao dia que começa. Lixo, poluição, fumaça, ignorância, mentiras, ódio, tristezas e desigualdades sociais não combinam com um dia bom.
Como tenho certeza da esfericidade do planeta, se pudesse, dava a volta ao mundo dando bom-dia a toda a gente, sabendo que não posso me esquecer dos que estão mais próximos. Seria descortesia ignorá-los. Acho bom dar ampla publicidade ao singelo cumprimento. Admitindo a hipótese de que não estamos sozinhos no Universo, e para não melindrar ninguém: bom dia, extraterrestres! Meu bom-dia vai para todas as pessoas em todos os cantos, não importa quem, embora nem todos correspondam. Sempre é tempo de ser atencioso. Afinal, eu não dormi com essas pessoas. Conforme meu avô me ensinou: “Como você não dormiu comigo, diga bom dia ao seu avô!”.
Meu sincero bom-dia ao porteiro do prédio onde moro, bom dia ao rapaz dos Correios que traz a correspondência, bom dia ao entregador de pizza do aplicativo, bom dia à faxineira com seus paninhos, seus apetrechos e seu bom humor. Bom dia aos funcionários silenciosos e compenetrados que varrem as ruas e recolhem o lixo urbano. Bom dia aos jardineiros, pelo cuidado constante com os jardins e gramados que nos alegram a vida. O bom-dia há de ser também para aqueles que começam cedo sua jornada e trabalham de sol a sol, incansáveis batalhadores.
Bom dia, ranzinzas! Embora eu discorde de sua visão de mundo, vocês que se julgam superiores, acordam tarde e não dão sequer bom dia àqueles que, segundo vocês, nasceram para lhes servir, não vou entrar no seu jogo mesquinho. Bom dia também aos egocêntricos, que passam por nós e fingem que não nos enxergam.
Acordei cedo e abri logo a janela. Olhei para a rua desejando gritar bem alto meu bom-dia para quem vai à luta, para o motorista do ônibus, que certamente começou sua jornada quando ainda estava escuro; para o cara esforçado que pedala sua bicicleta com afinco, de olho no trânsito louco. Bom dia, distinta senhora, que saiu de casa com seu pet para que ele faça suas necessidades matinais! Não se esqueça de recolher o cocô do cãozinho! Não gritei porque não quis atrapalhar o sono dos que dormiram mal, não quis interferir na angústia dos insones; provavelmente, eles não compreenderiam essa manifestação de civilidade.
Do fundo do coração, meu bom-dia, mesmo que você não esteja nesta lista. Eu teria de me apoderar do espaço inteiro do jornal se fosse contemplar a todos. Minha especial saudação a você que estiver lendo esta crônica, tenha um bom dia!
Renato Muniz B. Carvalho