Antigamente, chapéu era uma peça indispensável do vestuário. Dependendo do estilo e da ocasião, era sinônimo de elegância. Usar chapéu exigia todo um ritual. Tirar o chapéu era sinal de respeito; entrar numa igreja com ele enfiado na cabeça era malvisto; na casa dos meus avós era proibido sentar-se à mesa de chapéu na cabeça. Cobrir ou descobrir o cocuruto tinha múltiplos significados para além da proteção contra os raios solares. Lá em casa, o ritmo era mais flexível e não nos preocupavam tanto as formalidades, não ligávamos de sentar à mesa de refeições trajando-os, embora meu pai fizesse cara de espanto. Questão de costume.
Na década de 1960, os chapéus estavam caindo em desuso. Meu avô já não usava; meu pai e minha mãe, muito menos. Não me recordo a razão, mas eu quis arranjar um de qualquer jeito. Aí meu avô me deu de presente. Não sei qual era a ironia — ele era muito irônico —, mas era um chapéu velho, de feltro, puído. Eu adorei. Crianças não costumam ser exigentes. Quando íamos à fazenda, lá estava eu com meu chapéu surrado, todo orgulhoso.
A maioria dos que usavam o protetor de cabeças usava os de palha. Não foi difícil perceber as diferenças: havia o baratinho e os chamados “Panamá”, que, diziam, eram fabricados nesse país latino-americano. Depois, soube que vinham do Equador, onde existia uma indústria famosa, coisa ligada aos indígenas daquela região. Na primeira oportunidade, desapeguei-me do meu dinheirinho e comprei um, embora fosse muito caro para meu pão-durismo. Eles não podiam molhar. Vinha a chuva e tínhamos de proteger o protetor, mas eram leves, confortáveis, a palha bem fina, incomparável em relação aos nossos caipiras e sua palha grosseira.
Acostumei-me a usá-los, embora quase nunca nas cidades, a não ser em longas caminhadas. Nas grandes cidades é raro ver pessoas usando chapéu; no interior é mais comum. Os mais velhos usam com mais frequência; esse deve ser o meu caso, afinal, preocupam-me os raios ultravioleta, que causam doenças e envelhecem a pele. Hoje em dia, fico incomodado quando vejo uma pessoa sob o sol quente sem chapéu. Tentei transmitir o costume para meus filhos, mas o urbanismo deles não os tornou apreciadores de chapéus.
É fácil constatar a grande variedade existente na atualidade. Estão por aí os tradicionais feitos de feltro de lã; são elegantes, faceiros e continuam em alta. Também há os de tecido, de couro, os impermeáveis, de materiais variados, com proteção contra os raios UV e sei lá mais o quê. Tem os baratinhos e os muito caros, para todos os gostos e bolsos. Em alguns casos, são considerados equipamentos de proteção individual, de uso obrigatório. Eles sobreviveram, embora alguns hábitos tenham mudado. Creio que levar o chapéu ao peito como sinal de submissão é algo que não se usa mais. Ainda bem!