Meio ambiente: cada um imagina o seu. O jovem casal sonha com a viagem do fim de semana para uma praia deserta, intocável, o paraíso na Terra. Os namorados mal sabem que isso não existe mais. Compraram bolacha, margarina, várias latas de sardinha, refrigerantes e providenciaram uma geladeira de isopor, abastecida de cerveja. Pediram a barraca do primo emprestada, encheram o tanque do carro e desceram a serra. O camping estava lotado. Difícil foi aguentar o som alto, apesar da placa advertindo que era proibido. Fila para o chuveiro, embalagens espalhadas na areia e eles se esqueceram de que deveriam trazer o lixo de volta, mas não tinham sacolas adequadas para armazenar; o cheiro ficou insuportável. Conclusão indignada do casal: “ninguém mais respeita o meio ambiente”.
A velha senhora é quem cuida da cozinha. Café, almoço, lanche, jantar e quitutes fazem parte da sua rotina. Não gosta quando o filho pede pizza ou comida pronta, “de restaurante”. Ela acha que falta “higiene” e sobram tagarelices. Outro dia, ao perceber que o baldinho do lixo estava cheio, abriu a janela, que dá para um terreno vago, e jogou tudo, numa mãozada só. Sem a força de uma lançadora, ainda bem que não caiu nem um pouquinho no próprio quintal! Conclusã “se ninguém viu…”.
O empresário investiu no mercado e com o lucro comprou um terreno. Preço de ocasião, apesar de localizado numa ribanceira. Fez as contas, imaginou a planta ideal e contratou os empreiteiros. Bom investimento! Construir ali não seria fácil, devido à declividade acentuada. Ora, gastaria um pouco mais! O problema era o córrego que passava no fundo. Alguém chegou a comentar que ele deveria respeitar a tal de “APP”. Indignado, afinal o terreno era dele, pagou por ele, achou que estavam querendo tomar um pedaço da sua área. Ninguém haveria de se intrometer no seu terren “onde já se viu!”. Conclusã “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Os pais estão orgulhosos do filho mais novo. Tem três anos e joga um bolão, na opinião deles e da avó paterna. Encheram a casa de brinquedos. Tudo de plástico. “Brinquedo de madeira é coisa do passado”, diz o pai. “Tem de ter consciência ambiental”, completou do alto de sua sabedoria. Os tais brinquedos duram pouco, quebram-se com facilidade, a solução é jogar no lixo e comprar outros. Conclusã “Infância é uma só, quanto ao resto, depois a gente resolve”.
É mentira o desmatamento na Amazônia. No Pantanal não acontecem incêndios. O aquecimento global é invenção dos ambientalistas. Somos todos parte do problema. Economia “verde” é o futuro. O Brasil é o país que mais protege seu meio ambiente. Não vai faltar água. Indígenas têm terras demais. Agrotóxicos não fazem mal à saúde. Conclusã conversa fiada, conversinha mole ou conversa pra boi dormir? Vai cair nessa? Afinal, a Terra é plana?
