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Conversinha fiada

Um dia desses, será melhor trazer marmita e travesseiro, me disse uma pessoa que estava sentada...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 09/04/2017 às 12:33Atualizado em 16/12/2022 às 14:05
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“Um dia desses, será melhor trazer marmita e travesseiro”, me disse uma pessoa que estava sentada do meu lado, aguardando o atendimento na fila do banco. Coisa chata é fila de banco, aliás, todos os tipos de fila, desde os tempos da escola primária! É fila para comprar ingresso no cinema, para passar pelo caixa do supermercado, para pegar o ônibus, até pra morrer deve ter fila... “Deus me livre!”, eu pensei. Acho que tenho trauma de fila.

“O senhor acha?”, eu falei, tentando esticar o assunto, por que o número da minha senha ainda ia demorar a ser chamado. Fila é assim mesmo, a gente ouve o que não quer e fala o que não deve. No fim, tanto faz, cada um vai para seu canto e nunca mais. É claro que se encontramos um conhecido, uma pessoa agradável ou uma boa prosa, a coisa muda de figura. Duro é encontrar alguém a fim de te doutrinar, de falar mal da política, de falar bem do próprio time de futebol, ainda mais se não é o seu time ou se você nem torce pra time algum. Pensando bem, nunca diga que você não torce pra nenhum time, essa é uma heresia tão grande quanto dizer que você não acredita em Deus. Na hora, surge um bando de pregadores fanáticos dizendo que você tem de torcer por um time, seja qual for, embora o melhor é o... Claro, tem sempre um melhor que o outro, por isso, evite discutir futebol, religião e política em filas, é fria! Eu finjo que estou dormindo, o que não é fácil. Numa fila de banco, com a tensão para não perder a vez, a sensação de que algo de ruim vai acontecer a qualquer momento é fatal. No mínimo, alguém vai tomar seu dinheiro. De qualquer forma, a maioria está ali para pagar contas, não é mesmo? Se não ficar atento, acaba pagando todas as penitências, além das contas.

Apesar da preocupação em não perder a vez, não me importei quando a pessoa do meu lado puxou assunto. Ele disse que era porteiro noturno num prédio na avenida tal. Não guardei o nome. “Sim, um absurdo!”, eu disse, e emendei: “Onde já se viu!”. Esse é um modo de falar sem dizer nada. “Onde vamos parar!” é outro. São maneiras de conversar sem se comprometer. As filas e outras situações imbecilizantes propiciam isso.

Tem gente que tem facilidade para puxar assunto, gosta de conversar, falar do marido, da esposa, dos filhos, do patrão, do... Do tempo. Falar do tempo é fácil. “Está quente hoje, não?” Pronto! O assunto flui, vai embora. “Será que vai chover?” é um clássico, um grande sucesso de público. Dá para estabelecer uma tipologia? Eu sou dos que ficam calados, dos que torcem pra fila andar logo, e você?

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