Existem pessoas que desafiam o tempo. Eu conheci algumas. Este exercício – creio que podemos chamá-lo assim – apresenta características variadas, umas muito interessantes, outras insossas. Você, que está lendo esta crônica, já tentou desafiar o tempo? Convenhamos, pode ser atividade bastante radical, mas também pode ser algo leve e descompromissado. Não é qualquer indivíduo que encara o desafio, embora, devemos reconhecer, quase todos tentam.
Vejam o costume que algumas pessoas têm de usar cosméticos, perfumes, tintura para cabelo, adereços diversos e roupas esportivas. Um brinco na orelha, por exemplo, pode rejuvenescer um participante. Já as práticas radicais apresentam níveis de complexidade maior, exigem ferramentas mais precisas, como a participação em discussões políticas, a leitura de livros, a presença em debates literários e artísticos, a proteção do meio ambiente e a defesa das liberdades. O que eu observo é que desafiar o tempo é, no mínimo, algo para se refletir.
Alguns, dentre os meus conhecidos, praticantes das modalidades mais leves, e também os que negam esse esporte, adotam pijamas como uniforme, tanto é que uns o usam o dia todo, indicando que se conformaram com sua própria insignificância, desacreditaram da utilidade do desafio, capitularam ou se tornaram descrentes das mudanças. Não se pode desconsiderar, dentre os negacionistas, os que adotam fardas, atitudes de rebanho e o autoritarismo, afinal, esses querem impedir o esporte. Sim, infelizmente, eles existem.
Os que levam a coisa a sério sabem que é uma atividade de alto risco, mas se divertem com isso, pouco se importam com formalidades e coisas supérfluas; alguns não estão nem aí para roupas, gostam delas coloridas, confortáveis e descoladas, nem ligam se ficarem pelados. Os desafiadores radicais do tempo se arriscam, são ousados, como os inventores, os escritores, os artistas e todos que acreditam que a alegria transforma o mundo. Desafiar o tempo não é pra qualquer um.
Deploráveis são os que, como carrapatos, se grudam no passado e tentam impedir as mudanças que virão. Ainda bem que existem os que se ocupam de sua continuidade, do porvir. Há muita controvérsia, mas os praticantes que apostam no futuro acreditam que seja possível atingir ganhos positivos se puderem evitar anacronismos e tristezas. O êxito virá com maior participação popular, isto é, quando mais gente acreditar que é possível desafiar o tempo e transformar a realidade.
A história está repleta de avanços e de retrocessos. Há os que negam a evolução, mas há também os que se preocupam com as próximas gerações, que provocam transformações, arriscam a própria vida e a carreira pelo atrevimento de mostrarem outras trilhas. Há 50 anos, na literatura e na música, autores como Rubem Fonseca, Chico Buarque, Dias Gomes, Adoniram Barbosa, Plínio Marcos e Ignácio de Loyola Brandão, entre outros, foram censurados por seguir novos rumos, mas eles desafiaram o tempo, enfrentaram o óbvio e a repressão. Suas obras merecem ser conhecidas. Topa o desafio?
(*) renatombcarvalho.blogspot.com.br