Acordei pensando em golpe. Que golpe? Golpe de sorte, golpe de Estado, golpe do boleto falso, golpe de mestre, golpe do Pix — são tantas as modalidades que nem sei. Foi um amigo preocupado com as coisas mundanas que me ligou ontem, aflito, avisando que estavam pedindo dinheiro em meu nome. Dei um sorriso, contido, mas aliviado. Esse golpe não cola mais, será que alguém cai?
Começa mais ou menos assim: “fulano, mudei o meu número de celular e estou precisando de uma grana, dá pra você me emprestar R$2.645,36 para pagar a conta do supermercado?” Hein? Quem fala? “Aqui é o golpista que pretende te surrupiar uns trocados, vamos nessa?” E arremata: “depois te devolvo”. É sério isso? Claro que as palavras não são exatamente essas, mas são muito parecidas. Eu não acredito que alguém tenha a coragem de transferir dinheiro para uma pessoa a partir de um pedido desses. E vocês, caros leitores?
A questão é que, nós, os brasileiros, somos amorosos, solidários, dispostos a ajudar ao próximo. “De quanto você precisa?”, vamos logo concordando sem fazer as devidas averiguações. Uma simples verificação ajudaria bastante: “você é quem realmente diz ser?” Que equação complicada ser um outro, ser uma farsa, inventar falas, uma armadilha para fazer os outros caírem nela. Alguns caem, não conferem, não desconfiam das artimanhas do golpista.
Já devíamos ter nos acostumado aos golpes, eles estão presentes na nossa história. Tomar um golpe é muito chato, humilha o camarada, derruba o ânimo do golpeado, irrita, rebaixa o moral. Mas eles ressurgem, golpistas são experts em inventar novos golpes a cada temporada, como roupas da moda que se trocam quando muda a estação.
Existem golpes simples, tão simples, que é difícil acreditar que é golpe. Outros são sofisticados, ardilosos, complexos. É uma arte, a arte de tomar dinheiro dos incautos, dos distraídos e ingênuos, com todo respeito aos homens e mulheres de boa vontade.
Tem golpe que você percebe na hora, tem o que leva tempo para perceber que você caiu. A história registra golpes famosos, como, por exemplo, o conto do vigário, o “Boa noite, Cinderela”, o das pirâmides, das correntes, das notas falsas, do bilhete premiado, o que pretende implantar uma ditadura. Conhece esse? Do jeito que as coisas andam, vou montar um cursinho de golpes, não para ensinar a executá-los, é óbvio, mas como se prevenir. Melhor não, poderiam acusar-me de querer ganhar dinheiro fácil, quase um golpe.
O problema dos truques para tomar um dinheirinho dos desatentos é que nem sempre levanta suspeitas. De modo geral, os golpistas agem com astúcia e fingimento. Usam e abusam de trapaças, mentiras, violência. Quem não gosta de uma história bem construída, de um enredo sedutor? Um rostinho bonito, uma fala mansa, uma tragédia pessoal, tudo isso convence, atrai, e você caiu feito um patinho. Cuidado, é golpe!