ARTICULISTAS

Em busca de novos horizontes

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 04/07/2020 às 07:37Atualizado em 18/12/2022 às 07:36
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Quando eu era menino, ali pelos onze, doze anos, adorava subir no telhado da casa onde morávamos. Não me lembro de ter sido repreendido por isso, mas hoje não aconselho a ninguém que faça o mesmo. Todos têm informação e orientação para não fazer, e há sempre o risco de quebrar uma perna, um braço, bater a cabeça e outras péssimas consequências de um tombo. Mas era gostoso observar o mundo ali de cima!

Era uma casa térrea, o telhado construído com telhas de barro, modelo duas águas tradicional, dividido pela cumeeira. O telhado não era muito alto, mas, de cima, a sensação era de amplidão, de um vasto cenário. Naquele tempo, eram poucos os prédios altos, quase todos localizados no centro da cidade. Dava para avistar árvores distantes, ruas, avenidas, córregos — aqueles que ainda não tinham sido canalizados — e os grandes quintais com suas hortas, árvores frutíferas e, ocasionalmente, até galinheiros. Não era costume ter churrasqueiras ou piscinas, com raras exceções.

Eu poderia ser chamado de bisbilhoteiro, mas não era essa a intenção. Não estava interessado em ver ninguém em especial, senão eu mesmo. O olhar era pra dentro, mediado pela altura, pelo silêncio, pelo espaço extenso, sem muros, sem fronteiras a não ser as do horizonte. Eu queria enxergar mais longe, além dos limites da minha casa, do meu bairro, da minha cidade… Necessitava ir além dos meus temores e enquadramentos.

Subir ali era uma forma de refletir sobre minha condição de adolescente, de estudante, de ser humano. Estava exercitando o pensamento crítico, para além das barreiras familiares, sociais e culturais. Eram experiências de autonomia e de liberdade. Não a liberdade formal, vazia de significados e individualista, mas a liberdade comprometida com o meu tempo. Precisava descobrir qual era meu lugar no mundo. A partir daí, eu poderia eleger meus compromissos e conhecer melhor minhas chances.

Felizmente, não caí, não quebrei telhas, não incomodei ninguém, a não ser uma tia ranzinza que ajudava minha mãe a cuidar da casa. Com certeza, ela não entendia as minhas razões, achava que eu devia ficar no térreo, no raso das calçadas, em frente à televisão, jogando bola ou, no máximo, andando de bicicleta nas vizinhanças.

Não deixei de ler livros nem de ouvir música por conta dessa excentricidade, não me isolei dos amigos nem de nenhuma outra pessoa, não perdi o rumo nem o prumo. Procurava notícias em jornais independentes, aprendi a ler nas entrelinhas, pelejava para desvendar o que não queriam que fosse descoberto, o que eu queria era desenvolver uma visão crítica sobre a realidade. Não escrevo isso para dar receitas, muito menos para traçar caminhos para quem quer que seja, apenas para recordar e dizer o quanto é importante adotar diferentes perspectivas ao olhar para o mundo.

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