ARTICULISTAS

Emília e eu

Tenho uma amiga que adoro, que conheci ainda criança, porém mais velha do que eu. Seu nome é Emília

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 17/11/2018 às 10:23Atualizado em 17/12/2022 às 15:33
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Tenho uma amiga que adoro, que conheci ainda criança, porém mais velha do que eu. Seu nome é Emília. Sabe aquelas pessoas que nunca envelhecem? É ela! Recorro sempre à sua experiência e sabedoria, principalmente quando estou em alguma enrascada intelectual, sentimental, política, literária... Amigas mais velhas costumam ser boas conselheiras. Às vezes, parece que temos a mesma idade, sinto que cometemos os mesmos erros e acertos. Está pra nascer alguém tão independente e livre como ela, uma menina com charme irresistível, atrevida e muito criativa, ela pega no pé dos conservadores, dos chatos e dos macambúzios. Todo mundo devia ter uma amiga assim! 

Nosso primeiro contato, durante minha infância, foi de encantamento e de admiração. Encontramo-nos num sítio, no interior de São Paulo, mas podia ter sido em qualquer lugar do país. Contam que ela demorou a falar, mas quando começou não parou mais. Destrambelhou a falar e se revelou de uma esperteza e astúcia impressionantes. Foi como se tirassem uma tramela que a impedia de se expressar e ela desandou a contar histórias, a fazer perguntas, a propor desafios e, um dia, até quis reformar a natureza. Um amigo comum certa vez me contou que ela era “séria e convencida. Não fazia nada de brincadeira”. Com ela aprendi muitas coisas sobre história, geografia, contos de fadas, fábulas, mitologia grega, aritmética, meio ambiente e um dos meus assuntos preferidos: o mundo da gramática.

Eis uma pessoinha única! Uma amizade que não quero perder nunca, dessas que hão de durar a vida inteira! Às vezes, acontece de eu estar triste, meio perdido por causa de uma chateação qualquer e vou até ela: “Emília, o que eu faço?”. Conversamos, quer dizer, ela fala mais do que eu, mas ouço atentamente. Tudo tem solução e, se não tem, ela inventa.

Outro dia, fomos tomar um gostoso café com pipoca, tudo produzido no sítio das suas avós. Sim, ela tem duas avós, que também são como mães, carinhosas, companheiras, duas senhoras especiais! Uma delas é a Tia Nastácia, especialista em bolinhos fritos. Pois então, eu falei que estava preocupado com a situação do Brasil. Ela recomendou que eu usasse o raciocínio. Ora, é claro, o raciocínio! Refleti em silêncio sobre o que ela disse. Justamente, é o que anda faltando pra muita gente hoje em dia: usar o raciocínio! E ainda me recomendou que não me esquecesse do “faz-de-conta”, um recurso que costuma deixar algumas pessoas com cara de asno, mas funciona. São duas coisas indispensáveis. 

Se você tem uma amiga assim, aproveite, conversem bastante, troquem ideias sobre o mundo, a política, o futuro, ouça suas sugestões de leitura. Se você não tem uma amiga como a Emília, está passando da hora de arranjar uma, nem que seja uma boneca de pano. Deixe o preconceito pra lá!

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