Quer um conselho? Aqui está: tente não perder a habilidade de escrever à mão. Ah, você não é escritor ou escritora? Raramente escreve à mão? Só escreve digitando no celular? Então, não custa repetir: seja com caneta ou lápis, exercite a escrita manual e, de preferência, use letra cursiva. Em algum momento da sua vida, isso vai lhe fazer falta. Não confunda minha modesta sugestão com saudosismo ou apologia da volta ao passado. Não sou dado a essas reflexões anacrônicas. Eu quero é enxergar o amanhã, vislumbrar o horizonte e suas tardes coloridas, o próximo porto, as infinitas possibilidades à disposição das próximas gerações, e não o espelho retrovisor. Vamos em frente?
Como se sustenta uma ideia dessas em pleno século XXI? Que argumentos amparam essa proposta num tempo de predomínio das telas dos celulares, dos teclados dos computadores, das mensagens de áudio nas redes sociais? Já pensou se os burocratas resolvem propor o retorno das velhas máquinas de datilografia? Não, não é disso que se trata, mas de saúde física e mental, de preocupação com o futuro.
Sente-se numa cadeira confortável ou abrigado à sombra de uma árvore frondosa e recorde-se de quando você foi à escola por volta dos seus sete anos de idade. Uma das primeiras coisas que a gente aprendia era como segurar no lápis, mesmo que seus pais tivessem te presenteado antes com uma linda caixa de lápis coloridos ou giz de cera. Cá entre nós: você nunca rabiscou uma parede ou o chão com um pedaço de carvão? Lá atrás, quando você se percebeu como estudante, não deve ter achado tão complicado segurar o lápis e desenhar as primeiras letras, não foi?
São experiências e sensações inesquecíveis para a maior parte das pessoas, mas muitas não valorizam o processo, a aprendizagem. Eu tive um conhecido que se orgulhava de não ter uma caneta sequer em sua casa. Deixar um recado para alguém dependia de ir até o vizinho e falar o recado. Dependendo do conteúdo, já imaginaram a humilhação? Custa ter um bloquinho de anotações e alguns lápis e canetas em casa?
Sim, muita gente tem dificuldade com a escrita à mão. Eu fui um desses. Minha letra era considerada horrível por alguns. Bobagem, eu me virei sem precisar de um caderno de caligrafia. Busquei alternativas, experimentei diversos tipos de canetas. Fui adiante, peguei gosto pela coisa.
Que tal sentir essa sensação, dominar a escrita? Vamos lá! Você vai precisar de papel, lápis ou caneta e um pouquinho de boa vontade. Escreva a primeira ideia que te vier à cabeça, uma declaração de amor, um bilhete. Sei lá! Qualquer coisa, desde que seja à mão. Há, de fato, uma conexão valiosa entre a mão, o braço e o cérebro quando fazemos isso. A sensação de ver as letras e palavras surgindo é maravilhosa. É quase mágica.
Renato Muniz B. Carvalho