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Estação das chuvas

A chuva cai forte lá fora. Eu olho pelo vidro da janela e me encanto.

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 23/02/2019 às 15:32Atualizado em 17/12/2022 às 18:29
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A chuva cai forte lá fora. Eu olho pelo vidro da janela e me encanto. Observo e ouço, pois a chuva faz barulho, um som gostoso e constante, som inconfundível de água que molha a terra, lava as folhas das árvores, golpeia as calçadas, se acumula nos locais mais baixos e escorre pelo meio-fio até sumir nos esgotos. O melhor som é o dos pingos d’água das calhas, dura uma eternidade. Penso naqueles que estão no caminho, nas ruas, alguns sem proteção. Vão se molhar, ficarão encharcados. Minha tia diria: “molhados até a alma!” Como é uma alma molhada? Alma se molha? Já ouvi dizerem de alma fria, indiferente, com ódio, mas molhada... Nunca tinha pensado nisso. Muitos não se molharão, estão dentro de casa, nos ônibus, nos carros... Ainda se usam guarda-chuvas, mas capas cada vez menos. Penso nos cachorros de rua que não têm pra onde ir. Se tiverem a sorte de encontrar um abrigo ou um cantinho coberto, estarão, como eu, apenas olhando, resignados, aguardando algo sobre o qual não têm controle.  Controle sobre a chuva é uma ideia antiga. Penso que o tempo das rezas e danças ficou no passado. Controlar as chuvas passa pelas nuvens, essas coisas tão lindas, grandes e volúveis. Elas deveriam ir para onde bem entendessem, mas sujeitam-se às vontades dos ventos, da evaporação, do relevo, das frentes frias... Já tentaram jogar produtos químicos sobre elas, numa tentativa de acelerar o processo, mas é caro e o resultado é indeterminado. Acho que ninguém deveria controlar as chuvas, mas aprender melhor seu ritmo, seu tempo... Quando criança, eu ficava pensando no imenso depósito d’água que imaginava existir lá em cima. Tinha hora certa pra cair? Tinha torneira? Depois, fui estudar o assunto, entender o fenômeno, suas características, suas especificidades, o papel do Sol, das latitudes e de tantos fatores, a complexidade maravilhosa dos eventos que ocorrem no planeta Terra.  O problema é o que fazem com a água. Como pode alguém sujar rios e mares? Como pode alguém derrubar as florestas sabendo que isso vai afetar o ciclo das águas? Vai faltar água em algum lugar. As nuvens parecem ingovernáveis, mas é preciso garantir água para todos, água boa, farta. Afinal, não se vive sem água. Não sei o que é pior: a seca ou o estrago ocasionado pelo solo e o lixo que escorrem das encostas encharcadas, o grande volume de água que arrasta casas, pessoas e automóveis. As pessoas não conhecem os riscos da impermeabilização dos solos? Elas sabem o que significa impermeabilização?  A chuva cai mansa e relaxada... No muro, a hera sobe vigorosa e trança um desenho verde, seus fios se misturam às camadas suaves de liquens. De um buraco do muro sai um cachorrinho que se balança todo, espirrando água da chuva dos seus pelos, e vai embora antes que aumente o aguaceiro.   Renato Muniz B. Carvalho  

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