Supermercados são lugares fascinantes. É um mundo à parte: iluminação artificial, combinação intensa de cores, sensação simulada de felicidade. Às vezes, fico aborrecido lá dentro: o ambiente é sintético, sem identidade. Não é uma panificadora, mas tem pães. Não é um açougue, mas tem carnes. Não é um bazar, mas têm roupas, brinquedos, panelas, etc. Há uma profusão de itens à venda, organizados numa lógica de marketing. Não se iludam: quase nada nesses estabelecimentos é espontâneo. São preparados para estimular as compras, para nos fazer levar para casa inclusive o que não precisamos.
Quando eu entro num supermercado, quero resolver tudo da forma mais rápida possível. Nada de embromar, não estou ali para passear. Corredores entre prateleiras não são pistas de caminhada. Difícil é quando encontramos alguém conhecido e a pessoa começa a contar sua vida, os dissabores, as realizações, o casamento da sobrinha, o último filme, a trama da novela… Vai me dando uma agonia insuportável. Se o carrinho tivesse motor, eu estaria acelerando, como certos motoristas fazem no sinal vermelho.
Acredito que essa introdução seja suficiente para vocês compreenderem que quanto menos tempo eu ficar num supermercado, melhor. Repito: nada contra esse tipo de comércio, são úteis, cumprem um papel importante nos dias agitados em que vivemos, tempos de correria e pouco dinheiro, mas não há tempo a perder. Verdade que sou da época das mercearias, como as poucas que ainda sobrevivem nos bairros. São simpáticas, têm o jeito dos donos, personalidade. Aprendi com meu avô a pechinchar nesses estabelecimentos — não dá para fazer isso num supermercado. Ele era capaz de ficar horas numa dessas, conversando sobre política, sem ódio. Podia-se experimentar um naco de bacalhau, azeitona, ameixa seca. É inevitável, mas acho que vão desaparecer.
Outro dia, um amigo me contou uma história curiosa. Disse que foi ao supermercado para comprar queijo. Foi direto à gôndola dos laticínios, escolheu o que queria e se dirigiu ao caixa. Ao encontrar um caixa mais vazio, notou a presença de um carrinho no meio do caminho. Estava com alguns produtos. Olhou para um lado, para outro, mas não viu o “dono” das mercadorias. Afastou o carrinho e se posicionou na fila. Pouco depois, apareceu um sujeito, e já chegou reclamando: “Este lugar é meu”. Assustado, o meu amigo confessou que não devia ter feito isso, mas respondeu na hora: “Foi ao vento, perdeu o assento”. De repente, o sujeito fechou a cara e avançou na sua direção: “Se estivéssemos no trânsito, ele teria me atropelado”, disse assustado. Teve vontade de partir pra cima do infeliz, mas seria deplorável uma briga de dois velhos no supermercado, ponderou. Afastou-se e deu passagem para o mal-humorado. Intrigado, ele me perguntou: “O que ele quis dizer com ‘este lugar é meu?’, eu nunca tinha pensado a fila do caixa do supermercado como uma capitania hereditária. E você?”.
Renato Muniz B. Carvalho