Falando nisso...

Tem hora que eu sinto um imenso orgulho do Brasil. Depois, a euforia e o ufanismo passam. Calma, eu explico. Os brasileiros comuns, como eu e você, gente do povo, trabalham pra caramba! Acordam cedo, comem pouco, às pressas, andam à beça de um lado pro outro, a pé, de bicicleta e, quando usam o transporte coletivo, viajam de pé, sem cinto de segurança e aos solavancos. Pois é, os brasileiros são fortes, isto já foi cantado em prosa e verso. Às vezes, enfrentam alguns probleminhas, é verdade, mas quem não os tem?

O povo diz que o que não mata, engorda. Os brasileiros levam isso bem a sério. Vira e mexe, orgulhosamente, comem porcarias e ainda contam vantagens, isso quando não desconfiam e ridicularizam quem fez as análises ou deu o alerta. Eu tinha um conhecido que gostava de comer veneno. Ele punha uma porção na boca, no tempo do DDT, e ria: “Viu, não morri!”. Morreu atropelado, novo ainda, e olhe que não dirigia, nunca tirou carteira de motorista, não prestava atenção no trânsito, não acreditava que alguém fosse passar por cima dele. Mas não morreu por causa dos venenos...

O problema com a comida é que tem gente que acha que pode lucrar mais uma beiradinha, coisa sem relevância, dizem, e toca a colocar produtos para baratear, para disfarçar e para render mais. Que importância tem? No meu tempo de criança, minha mãe não gostava de comprar goiabada porque dizia que tinha chuchu no meio. Eu nunca acreditei nessa história, mas chuchu era um produto muito barato, uma rama que vingava em qualquer quintal. É verdade que chuchu na goiabada nunca fez mal a ninguém, mas o que pensar de agrotóxicos na comida? Brincadeira, não é? Nesse item, o Brasil é campeão, é o país que mais consome agrotóxicos no mundo! Não dá um baita orgulho? Tem até gente que nem chama esses produtos de venenos, prefere chamar de defensivos ou de insumos. Chique, não?

Falando em comida, os brasileiros são excêntricos. Lá no Sul, colocaram formol, água oxigenada, xixi e até soda cáustica no leite! Um dia, acredite, eu fiquei envergonhado quando meu pai contou que um vizinho de fazenda fora pego colocando água no leite... O país evoluiu! Hoje, além de água, colocam muita coisa a mais. E a carne, com todas essas denúncias que enlameiam a indústria frigorífica nacional? Pois é, eu não acredito, mas bem que desconfiava faz tempo do gostinho estranho de certos embutidos, tenho de admitir. E o azeite que não é mais virgem? E os transgênicos? Até a paçoquinha, tão genuinamente brasileira, não passou no teste. Mas quem se importa? Em todo caso, Deus continua brasileiro, temos o melhor futebol do mundo, a maior floresta equatorial do planeta e uma turma de dirigentes que nos enche de orgulho. Não é?