O povo diz que quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Imagino o sujeito se dirigindo a um cavalo para lhe dar bom-dia: “Bom dia, como vai? Dormiu bem?” O que será que o cavalo responderia? Diria bom-dia também ou daria um coice? Afinal, ao longo da história, os humanos não se distinguiram por tratar bem os equinos: foram obrigados a puxar carroças pesadas, lutaram em guerras sem ter nada a ver com a peleja, sofreram com esporas pontiagudas, correram à custa de chicotadas… Se fosse eu, daria um coice, mas cavalos são seres pacíficos.
O povo também diz que quem fala demais fala pelos cotovelos. Uma possível explicação para a frase está na gesticulação exagerada dos tagarelas; mas valem outras interpretações. Igualmente, gosto de imaginar um cotovelo desejando bom-dia: “bom dia, mão!”, “bom dia, perna!”, “bom dia, coração!”, e as possíveis respostas: “pra você é fácil, eu é que meto a mão em cumbuca!”, ou a perna: “‘bom dia’ uma ova, pernas para que te quero!”, “aguenta, coração!”
Na maioria dos casos, as expressões indicam que a pessoa fala demais, fala “abobrinhas” — longe de mim qualquer crítica à simpática hortaliça. É que tem gente sem noção em todos os campos: na política, nas artes, na educação, na saúde e em outros ramos. São os “entendidos”, os especialistas em tudo. Na primeira oportunidade que surge, falam, gritam, tentam ocupar os espaços, ditar regras. São os que dão bom-dia a cavalo, falam pelos cotovelos, falam abobrinhas, melancia, melão, pepino, chuchu, uma salada inteira.
Minha avó dizia que em boca fechada não entrava mosquito. E meu avô emendava: temos uma boca e dois ouvidos para ouvir mais e falar menos. Sábias palavras! Cada um fala o que quer, mas não se esqueça: quem fala o que quer escuta o que não quer.
Entre a fala destrambelhada e o silêncio oprimido, é preferível a conversa. Conversas costumam ser mais produtivas do que ordens, do que as concordâncias duvidosas e os discursos autoritários. Será que um dia vamos aprender? Bons diálogos, seja numa varanda em uma tarde chuvosa, acompanhados de um cafezinho, em torno de uma mesa com quitutes caseiros, seja nas ruas, são imprescindíveis. Tem gente que fala com bichos, com árvores, com as nuvens, com livros, por que não? Para um bate-papo produtivo, é preciso humildade, observação criteriosa da realidade e respeito à diversidade social, cultural e política, além da interlocução democrática com todos os presentes. Professores devem conversar com seus alunos, médicos com seus pacientes, pais com seus filhos, artistas com o público, políticos com eleitores e cada um consigo mesmo. Essa última forma de conversa se chama autocrítica: ouvir o próprio coração, rever ou confirmar posições. Tem gente que gosta de conversar com seus botões. Problemático vai ser o dia em que as roupas não tiverem mais botões!