Se você já teve a oportunidade de passear por um pomar ou em algum lugar com várias árvores frutíferas, pés carregados de deliciosas e vistosas frutas, provavelmente já apanhou algumas delas verdes. Não se trata da cor, mas do estágio incompleto de amadurecimento. Meu avô bem que tentou nos ensinar a escolher sempre as melhores, a não ser gulosos e não avançar sobre as que não estavam maduras. Difícil missão quando se tratava dos netos aventureiros, correndo soltos nos grandes quintais de antigamente.
Os técnicos costumam usar o termo “maturação” para se referir ao ponto ideal de consumo. Mas há quem goste de frutas verdes. Minha avó adorava comer manga verde com sal. Eu nunca gostei. Manga boa, pra mim, tem de ter polpa amarela, doce, cheirosa, o suco até pode escorrer pela boca e manchar a camisa, não tem coisa melhor. Depois é só lavar. Meu pai gostava de apanhar o que ele chamava de frutas “de vez” para enviar aos amigos. Dizia que aguentariam tempo de espera suficiente até chegarem aos destinatários.
Cada fruta tem seu segredo, suas características especiais. Algumas delas basta apanhar que amadurecem rapidinho. Outras demoram, como o mamão. Nós o apanhávamos ainda verde, o amarelo como projeto, como probabilidade. Maracujá, laranja, abacate e outras frutas aguentam um tempo maior antes de serem consumidos. Minha mãe, quando ganhava algum cacho de bananas, gostava de embrulhar em jornal e guardar debaixo da pia. Alguns cachos demoravam até quinze dias para amadurecer. Depois, amadureciam de uma vez só. Comíamos banana no café da manhã, banana frita, assada, farofa de banana no almoço, bolo de banana no lanche da tarde, mas no jantar não. Diziam que não era recomendável. Quem recomendava, nunca me contaram. E olha que naquele tempo não existia internet.
Tem a ciência, o conhecimento acumulado ao longo do tempo, mas a alimentação também depende dos costumes, do clima, da cultura de cada povo. Quanto a nós, a criançada, queríamos aproveitar cada instante, cada fruta que pudéssemos colher no próprio pé. Jabuticaba e amora tinham de ser consumidas o quanto antes. O melhor era encontrar tantos pés carregados de frutas quanto era nossa gula, nossa disposição para apreciar tudo. Esperar amadurecer era uma atitude que não combinava com nossa afobação. Não era fome, éramos afoitos, certamente algo típico da idade. Se não dava pra comer no pé, esperávamos minha avó fazer doces em compota, como os de goiaba de orelha, como chamávamos o doce de goiaba em calda, e mais: mamão com doce de leite, doce de laranja, de jaca, de jenipapo etc. Era muito doce, acho que exageramos, reconheça-se.
A pressa hoje se confunde com ansiedade. Não de comer frutas, mas de ficar grudado no celular, na frente da televisão, esperando a próxima notícia, a próxima curtida, o próximo vídeo, o próximo lance. Pobres de nós!