Deu no jornal: o Brasil tem mais bovinos, suínos e ovelhas do que gente. No total, segundo o IBGE, existem quase 225 milhões de bovinos no circuito oficial da pecuária, fora galinhas e frangos, bichos de estimação e animais da fauna nativa. Em muitas cidades há mais gado do que gente. Uau! Fico pensando no significado disso. Será que os brasileiros convivem pacificamente com os animais?
Será que corremos algum perigo diante dessa evidente superioridade numérica? A literatura descreve alguns casos de revoltas de animais contra os humanos: “A revolução dos bichos”, de George Orwell; “Fazenda modelo”, de Chico Buarque, e “A famosa invasão dos ursos na Sicília”, do italiano Dino Buzzati, são apenas três exemplos, entre outros. Já leram?
O tema das revoltas de animais contra humanos é comum, seja na literatura, em peças de teatro ou em filmes. A vingança dos animais contra maus-tratos e outras formas de opressão vira e mexe nos assusta. E se, de repente, os animais adquirissem consciência de que são explorados pelos humanos? Por enquanto, é literatura, ficção, mas serve como advertência. E se os bichos se organizarem para atacar os seres humanos, tomar o poder e virar a chave? O que faríamos? Começaríamos uma guerra?
Como a imprensa noticiaria o conflito? “Animais entram em guerra contra os humanos” poderia ser uma das manchetes. “A humanidade vai mostrar aos animais seu verdadeiro lugar”, uma manchete um tanto tendenciosa. Ou então: “Começa a Terceira Guerra Mundial: animais revoltam-se contra seus legítimos donos”. É claro que a imprensa ficaria do lado dos humanos, afinal, pelo que se sabe, animais não têm jornais, redes de televisão, internet e redes sociais. Os animais teriam de inventar um método próprio para divulgar suas ideias, talvez investir em algum tipo de propaganda. Guerras, por mais esquisitas que sejam, também são travadas no campo emocional, ideológico, do convencimento, das verdades e das mentiras.
Tecnicamente falando, os humanos são uma única espécie, ou raça, como queiram. Não vou entrar em aspectos antropológicos ou biológicos, mas os animais pertencem a espécies diferentes e a variação é grande entre eles, não estou falando apenas de mamíferos, é óbvio. A questão é: cães, por exemplo, como se comportariam nessa guerra? Leões se entenderiam com zebras no campo de batalha? E as minhocas? De que lado ficariam? E os peixes e os insetos? O fato é que, se abelhas, marimbondos e pernilongos estiverem unidos, a hipotética supremacia humana ficaria ameaçada. A não ser que os humanos fizessem uso massivo de agrotóxicos, guerra química. O que dizem as convenções que regulam o assunto? Porém, se morrem todos os insetos, a própria humanidade estaria condenada, seria o fim da polinização.
As respostas são complexas. Mas é melhor investir em hortas e lavouras, proteger as matas e tratar bem os animais. Não é?
Renato Muniz B. Carvalho