No teatro, há um lance interessante, gostoso, quando funciona bem, que são os improvisos. De forma espontânea, acontece quando um ator esquece sua fala, quando uma luz não acende, apaga fora de hora ou quando ocorre uma falha na sonoplastia e alguém improvisa para dar continuidade à encenação. Depois, vira motivo de riso, de lição, de descontração, quando os atores relaxam e podem rir da situação criada. Existe, também, o teatro do improviso ou a técnica da improvisação, com artifícios que trabalham o elemento surpresa.
O improviso é bem-vindo na música, principalmente quando há o estímulo pelo mero prazer de tocar os instrumentos. No jazz e na música contemporânea é comum e, para alguns estudiosos, é essencial no blues. O bom improviso surge de situações inesperadas, produz sensações prazerosas, mas depende da habilidade técnica e da criatividade dos músicos.
Na vida prática, os improvisos são corriqueiros. Acontecem no dia a dia de uma residência, quando precisamos fazer pequenos consertos e remendos; quem nunca improvisou um calço, uma cola, uma ferramenta? Improvisamos no trabalho, nas artes, no namoro... Imagine que você convidou aquela pessoa maravilhosa para irem juntos à praia e, quando chegaram, o hotel estava lotado! Tiveram de improvisar, voltar, telefonar para um amigo, fazer um upgrade e ocupar a suíte presidencial de um hotel com o pé na areia! Maravilha! Se der certo, está ótimo, mas, se não der, resta dar boas risadas do fiasco.
Na vida pública, não devemos aceitar improvisos, entretanto é o que alguns gestores públicos mais fazem. No extremo, colocam em risco a vida dos cidadãos, brincam com sua saúde, comprometem seu futuro. Uma lástima!
O improviso acontece quando no lugar de promover educação, opta-se por repressão, por multa, por “remendos”. O radar de controle de velocidade, por exemplo, é um improviso. Se não há fiscalização, se não se construiu uma passarela para os pedestres, se não há educação para o trânsito, se os motoristas não são corretos, instala-se um radar e alguns espertinhos comemoram os lucros. E o excesso de velocidade? Ah, quem liga! Percebe-se o improviso quando o poder público delega funções usando argumentos distorcidos. A obrigação é zelar, cuidar, promover educação e não improvisar, ainda que respaldado por alguma legislação remendada, sacada do bolso do colete. O improviso esconde incompetência ou defesa de interesses escusos.
Um improviso “famoso” acontece nas vias públicas, quando há muitos buracos ou a pista está danificada. O que fazem os gestores? Colocam uma placa: “Cuidado com os buracos”. A placa faz aniversário, os buracos continuam. Outro exemplo “famoso” refere-se à falta de servidores, quando se contratam apadrinhados, reduz-se o horário de trabalho, criam-se escalas e vão tocando... Azar de quem precisa do serviço. O pior é quando tentam nos enganar fazendo propaganda de eficiência, de economia de recursos e outras baboseiras. Improviso bom só nas artes, do contrário vira comédia, ou tragédia!