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Jornais

Renato Muniz
Publicado em 11/03/2024 às 18:50
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Às vezes, dá uma vontade danada de passar numa banca de jornal e comprar um exemplar dos chamados jornalões. Um jornal desses antigos, com muitas páginas, fotografias, várias seções, manchetes instigantes, letras grandes, anúncios, quadrinhos, obituário, índices econômicos, crimes, fofocas. Nossa! Quanta coisa, quanta informação, eu até tinha me esquecido. Mas passo rapidamente, não compro, pois me distraio, nem sei quantas bancas restam na cidade.

Não quer dizer que eu não leia jornais. Leio e muito. Todos os dias. Não gosto de sair de casa sem antes dar uma boa olhada nas principais manchetes. Sou daqueles que não ficam sem folhear as notícias, ler os artigos, as crônicas, rir com as charges. Opa! Folhear não é o termo correto, ao que me parece. É que eu faço isso na internet, então não deve ser folhear. O que é? É visitar? É visualizar as páginas? É leitura, embora se pareça mais com o ato de observar figurinhas, pelo excesso de imagens, de ilustrações, de símbolos. Mais alegoria do que outra coisa. Letras são sinais gráficos, mas preciso me lembrar de que eu cresci aprendendo a diferenciar textos escritos e textos visuais, imagéticos, gestuais. Minha vida escolar, no começo, foi centrada no texto escrito. Analfabetos eram considerados os que não sabiam ler nem escrever um pequeno texto. Hoje, temos os chamados analfabetos funcionais, os analfabetos ecológicos, os analfabetos digitais e por aí afora.

Tudo tem um sentido, um significado, mas minha geração é a da página do livro, da página impressa. Nunca imaginei, na infância e na adolescência, que teria de me preocupar em diferenciar um livro a partir de seu suporte — papel, eletrônico, áudio, etc. —, considerar as inúmeras manifestações visuais, auditivas, sensoriais que fazem parte da vida atual. Ouvir uma música, roçar a mão, cheirar uma flor ou um maço de coentro e sentir variados prazeres, contentamento, repulsa ou tristeza. Tudo é texto, tudo é válido no terreno das possibilidades. O mundo nos propicia incontáveis descobertas.

Se antes da internet eu tinha de ir buscar o jornal na banca ou esperar ele passar pelo vão da porta, hoje basta deslizar o dedo pela tela do celular ou do computador. Neste aspecto, melhorou muito, mal acordo e já pego o celular. Mas me faz falta a compreensão do todo, do conjunto. Eis a questão. No jornal, é bater o olho na página e dá pra ter uma visão panorâmica das notícias, embora a sensação é que alguém escolheu por mim o que eu devo ler, seja na internet ou nos jornais impressos da grande imprensa. Quase impossível ignorar a ordem estabelecida, temos de cumprir um roteiro preestabelecido.

Vinte anos me acostumando com a notícia digital e, de repente, estou com receio de abrir um jornal impresso e me perder num universo desconhecido, imenso, repleto de informações. Era essa a estratégia? E agora?

 Renato Muniz

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