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Lata de lixo

Renato Muniz
Publicado em 02/09/2024 às 18:12
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Lixo sempre é um problema, um tema desagradável. O que fazer? Ignorar? Na infância, às vezes minha atenção se voltava, conforme minha curiosidade e ingenuidade, aos hábitos relacionados ao descarte de lixo lá em casa. Para resumir, quase tudo era resolvido depositando-se os resíduos numa lata de metal de 20 litros — talvez venha daí a expressão “lata de lixo”, né? Ao longo do dia, juntavam-se resíduos de toda espécie: cascas de alimentos, umas poucas embalagens, sobras variadas e objetos diversos considerados indesejáveis. Recordo-me dessa lata do lado de fora, no corredor da porta da cozinha. Ninguém ligava pra ela.

Quando a lata se enchia, alguém levava até a rua, de preferência no horário em que passava o caminhão que recolhia o lixo no bairro, e a colocava na calçada. Ficava sujeita aos animais vadios, aos miseráveis e às intempéries, como vento e chuva. Lá pelas tantas, aparecia o caminhão. Aos latidos dos cachorros, aos gritos das crianças brincando na rua, juntavam-se os sons do pessoal encarregado da coleta. Uma algazarra.

Eles pegavam a lata sem cerimônia, sem muitos cuidados, e a esvaziavam na carroceria do caminhão. Depois, jogavam a lata de volta na rua, de maneira displicente, e seguiam seu trajeto, em busca de outras latas, às vezes de baldes, sacos, caixas, etc. Não havia um recipiente adequado, identificado, mais higiênico. Em muitas ocasiões, a lata ficava jogada na rua, esquecida, até que alguém viesse buscar para lavar e dar continuidade ao processo, garantindo o recolhimento dos resíduos no dia seguinte, um processo infindável, cotidiano. Teria como ser diferente?

Não sei quanto tempo durava uma lata dessas, sei que ficava toda amassada, em estado deplorável, até ser ela própria descartada e substituída por outra. Lixo é algo que nunca acaba, tem todo dia, uns dias mais e outros menos.

Em muitas cidades há relatos de que, ao longo do século XX, o lixo era descartado pelas famílias diretamente nos córregos que cortavam a cidade. Córregos que, em muitos casos, passavam nos fundos dos quintais das residências. Segundo esses relatos, pedaços de madeira, frutas podres, restos de todo tipo, latas, carcaças de animais e móveis danificados eram alguns dos objetos descartados. Duas ideias justificavam a prática: “não tenho nada a ver com o lixo” e “a água leva embora”.

Hoje, o contexto mudou. O plástico, as sacolas plásticas em especial, e os aterros ditos sanitários mudaram o cenário, mas não muito. Deveríamos, faz tempo, ter eliminado o descarte de resíduos. Lixo zero! Quer saber? Certas ações e até ideias é que devem ser jogadas fora. Quantas atitudes e personagens do mundo atual não deveriam estar na lata de lixo, hein? É claro que “jogar lixo fora” não tem sentido — inclusive, acaba caindo no nosso próprio quintal —, a não ser o que jogamos na “lata de lixo da história”.

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