Algumas pessoas fazem qualquer coisa para conseguir ler um livro
Algumas pessoas fazem qualquer coisa para conseguir ler um livro. Tem outras que fazem de tudo para terminar uma leitura, principalmente se estão gostando. E tem aquelas que fogem dos livros como quem corre de cachorro louco. Reações de todo tipo. De fato, ler empolga, distrai, envolve, emociona, ensina. Quem não gosta de uma história vibrante, que faz pensar? Já vi pessoas carregando um livro como se fosse um tesouro e já vi muito desentendimento por causa de livros. Aliás, a história está repleta de exemplos.
Cada um tem seu ritmo, seu momento, suas preferências; a própria leitura estipula condições e cadências. Um livro de poesia não será lido como um romance, assim como um livro técnico não será lido como um livro de memórias ou uma biografia. Da mesma forma, ninguém vai ao cinema esperando encontrar uma exposição de quadros ou a uma peça de teatro achando que irá a um show de música. São coisas diferentes.
A leitura de livros literários proporciona sensações peculiares e admiráveis enquanto atividade intelectual. A tecnologia disponível avança no sentido de ampliar o universo de leitores. É o que se espera! Aí estão o sistema Braille, os e-books e os audiolivros para quem não tem tempo ou condições de ler no formato tradicional. Entretanto, concentrar-se na página de um livro é algo imprescindível, ainda mais quando há a possibilidade de avançar ou retroceder na leitura, pular páginas, voltar capítulos, reler etc. É preciso buscar sempre a compreensão do enredo, o melhor entendimento das relações entre os personagens, imaginar os contextos, a ação. A leitura de narrativas literárias permite que o leitor tenha livre trânsito no decorrer da história. São infinitas as perspectivas. É o leitor que determina o ritmo, decide o caminho. Isso faz da leitura uma atividade de extrema liberdade – por isso, para alguns, ela é libertadora.
Quando a leitura empolga, ela derruba barreiras, permite ousadias e inconsequências adolescentes. Foi o que aconteceu comigo certa vez, há mais de quarenta anos. Era um fim de semana sem muitos compromissos. Tinha acabado de adquirir três livros que estavam me esperand “Bom dia para os defuntos”, do Manuel Scorza, “Ninguém escreve ao coronel”, do Gabriel García Márquez, e “O senhor presidente”, do Miguel Ángel Asturias. Assim que cheguei da escola, fui ao supermercado, comprei seis latinhas de leite condensado, duas latas de feijoada, fechei a porta do meu quarto e avisei que só sairia dali quando terminasse minha leitura. Claro que saí para ir ao banheiro, abrir as provisões e esquentar o feijão. Li, nada mais.
Não recomendo que façam o mesmo. Foi doidice, mas foi uma experiência única. Num fim de semana, mergulhei na América Latina, segundo a visão de três escritores fantásticos. Peru, Colômbia e Guatemala apresentados a mim naqueles livros eram a síntese da América, seu povo, seus dilemas políticos e culturais. Inesquecível!