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Medo da política

Você tem medo de quê? De bicho-papão? Do escuro? Do inferno? Cada um com seus medos

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 04/01/2020 às 11:50Atualizado em 18/12/2022 às 03:16
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Você tem medo de quê? De bicho-papão? Do escuro? Do inferno? Cada um com seus medos, suas superstições e seus pesadelos. Conta pra gente! Eu tinha uma tia que morria de medo de grilos. Fazia biscoitos deliciosos, mas a coitada não podia ouvir um grilo fazer “cri-cri-cri” que ficava apavorada. O som do grilo, a estridulação, segundo os estudiosos, serve para os machos chamarem as fêmeas. É um ritual de acasalamento. Essa tia nunca se casou, decerto por medo dos grilos… 

Tem gente que tem pavor de barata, de lagartixa, de morcego… Sem contar os medos ocultos, aqueles que a gente não confessa com medo deles se tornarem reais. Pois é, o medo se espalha feito notícia ruim.

Medos vão e voltam. Alguns desaparecem na idade adulta, outros se conservam para o resto da vida. Dizem que sentir medo tem seu lado bom, pois indica certa dose de responsabilidade. Prefiro os destemidos, mas, deve-se admitir: indivíduos sem medo podem ser perigosos e irresponsáveis. Sei lá! Depende do medo.

Nessa história toda, não sei bem onde se encaixa o medo da política. Sim, este é um medo recorrente e persistente, parece que vai embora, em seguida volta com força e ignorância. Atinge gregos e troianos, mas costuma afetar mais os ingênuos, os distraídos, os preconceituosos e, principalmente, os que faltaram às aulas de história e de geografia.

O medo da política se manifesta de várias maneiras. O medroso avisa aflit “não gosto de política!”, ou: “política não se discute!”. Lembra minha tia nas noites escuras da fazenda exigindo que fechássemos as janelas e inspecionássemos debaixo das camas à cata de grilos… Pobre dela!

Nas redes sociais, quando se manifesta disfarçado de regra básica o apelo “aqui não se conversa sobre política”, surge a dúvida: então se conversa sobre o quê? O que não é política nessa vida? O futebol? As relações amorosas? A educação? Aliás, existe educação apolítica? Sem política não vamos a lugar algum, não conseguiremos sequer virar a esquina. Sem a política, é melhor voltar pra casa e nos escondermos debaixo dos cobertores. 

Como acontece nesses casos, logo aparecem pessoas inescrupulosas que se aproveitam do medo da política em benefício próprio e dos grupos a que servem. Eles abusam da desinformação para confundir os incautos. Os medrosos não percebem que estão sendo manipulados. Ao refutarem a política, medo incutido sem que dele tenham percepção, tornam-se presas fáceis. É quando muitos se acovardam, abdicam de seus direitos, abandonam a participação política. O medo é instrumento do autoritarismo. Os medrosos demoram a se levantar contra a tirania. Assim foi na Idade Média, assim é nas ditaduras e nos regimes antidemocráticos. Mas há esperança: se conseguirmos desma

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