Alguns devem ter percebido; muitos, talvez não. O fato é que já estamos no meio do ano. Para uns, passou rápido; para outros, tanto faz. O primeiro semestre não trouxe grandes novidades nem terríveis revelações. Tivemos os desastres de sempre e eles afetaram a parcela mais sofrida da população. É a tal coisa: os gestores geralmente esperam a tragédia acontecer, recusam-se a discutir as causas e a agir para evitar a próxima. É cômodo ignorar as carências e os interesses escusos envolvidos no processo, ano após ano. É mais fácil colocar a culpa em quem subiu as encostas em busca de uma casa, nos que ocuparam as várzeas inundáveis, nos que tiveram negado seu direito à moradia digna.
O meio do ano chegou e, mais uma vez, testemunhamos informações desanimadoras sobre as mudanças climáticas. A preferência administrativa, burocrática e omissa fez opção por escamotear os dados. O meio do ano está aí e a pandemia não acabou, apesar de muitos terem jogado fora as máscaras e terem vacilado quanto aos cuidados básicos de prevenção. E se os indicadores econômicos melhorarem? Isso nos salvará?
A calmaria assusta pelo que traz de inusitado no ato seguinte, mas o segundo semestre promete. O que vem por aí? O que esperar em termos do inesperado? E do frio? E da política? A friagem já deu as caras, mostrou que não falha e pode vir intensa, cruel com os desprotegidos. Pode vir com temperaturas abaixo da média, com geadas e desalento. Tratemos de desengavetar as cobertas guardadas. O que fazer com os que não têm cobertas e vão continuar nas ruas, debaixo das marquises, nos barracos, nas encostas? Fazer caridade ou enfrentar o fato inevitável de que o frio vem no meio do ano e muitas pessoas estão sem abrigo, sem aquecimento, sem trabalho, sem renda?
Certamente, o segundo semestre virá pegando fogo, com os costumeiros incêndios, as queimadas, destruindo a fauna, a flora, a biodiversidade. Onde vai queimar mais: no Cerrado ou no Pantanal? Frio, fuligem e poeira vão levar crianças e idosos aos hospitais, engrossando as estatísticas. É fogo!
Lá pelo mês de setembro, se não tivermos sido atropelados pelos elementos autoritários sempre presentes na nossa história, celebraremos a primavera, as flores e as árvores. Ah, e a Independência do Brasil! Não sou profeta, nem pretendo assumir esse encargo, mas no final de outubro estaremos confirmando, meio abobados: “nossa, o ano já acabou!”.
Duvidam? Basta observar o andar da carruagem. Sem perceber, chegaremos ao final do ano. Que pressa é essa? Estamos sendo enganados, dormindo muito, assistindo filmes e séries demais, ou o planeta acelerou seus movimentos? Calma, o ano não terminou! Cadê seu título de eleitor? Vai ter quinta dose da vacina? Está preocupado com a chuva? Vamos recolher a roupa do varal antes do temporal.
Renato Muniz B. Carvalho