ARTICULISTAS

Melhorar o diálogo

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 21/12/2020 às 20:22Atualizado em 19/12/2022 às 05:39
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Acho que, dificilmente, aprenderei tudo o que preciso saber sobre comunicação. Gostaria, pelo menos, de ouvir mais e falar menos. Um dia, queria prestar mais atenção ao que todos têm a dizer, sejam gentes, bichos ou vegetais. Sim, todos têm algo a dizer, cada um à sua maneira, é claro! Cabe a nós ouvir, respeitosamente. Parece que a humanidade caminha no sentido contrári todos querem falar mais alto, gritar, dar seu recado sem se importar se tem alguém ouvindo e entendendo. Eis um antigo dilema.

Quando garoto, passávamos as férias na fazenda do meu avô. Lá, não tinha luz elétrica nem telefone. Aliás, só a partir dos anos 1970 é que os telefones se tornaram comuns em muitas residências urbanas do país. No final dos anos 1980, serviços de radiocomunicação resolviam o problema em propriedades rurais, até chegarem os celulares. Ainda há muito que melhorar, pois não é raro ouvirmos queixas sobre ausência de conexão, inexistência de sinal de internet etc.

Nos anos 1960, raríssimas propriedades rurais tinham telefone. Na fazenda do meu avô, a comunicação era feita de três maneiras. A primeira, a mais simples e eficaz, era pelo leiteiro, isto é, o motorista do caminhão que buscava o leite, todo dia. Ele levava e trazia recados, medicamentos, objetos diversos. Em segundo lugar, através de programas de rádio, mas essa era uma comunicação unilateral. A terceira opção era utilizar os poucos telefones existentes nos povoados próximos. Montávamos a cavalo, íamos ao povoado na expectativa de que o aparelho estivesse disponível e então podíamos conversar.

Num espaço de trinta anos, a evolução tecnológica foi imensa. De tão significativa e rápida, muitos ainda têm dificuldades para resolver suas necessidades de comunicação, muitas delas típicas de sociedades que não aprenderam a ouvir o outro, que não respeitam diferenças culturais. Proliferam comportamentos autoritários, excludentes e normativos em excesso, gerando atitudes que potencializam conflitos.

No meu tempo de menino, jamais imaginei que teria um celular à minha disposição 24 horas por dia, capaz de me conectar com o fim do mundo! Hoje, além da permanência do rádio, a televisão chegou a mais lugares do que se poderia imaginar e a humanidade dispõe do celular, com suas inúmeras facilidades para troca de mensagens e outras coisinhas. Um dos problemas recorrentes quanto ao seu uso são as normas de convivência. Certas questões não eram tão angustiantes, como quando o telefone tocava: atender ou não? Às vezes, era melhor fazer de conta que não tinha ninguém em casa. Hoje, tem gente que briga se não o atenderem.

A comunicação é importante, tanto quanto acenos e gestos. Precisamos dar e receber notícias, dizer de nascimentos, mortes, pedir votos, trocar informações comerciais, falar da nossa produção intelectual. A comunicação tornou-se imprescindível no mundo atual. Mas precisamos melhorar o diálogo, tanto com nossos semelhantes como com os demais seres da natureza. De acordo?

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