O escritor Monteiro Lobato, por sua obra e sua vida, sempre despertou paixões e divergências, apoios e discordâncias...
O escritor Monteiro Lobato, por sua obra e sua vida, sempre despertou paixões e divergências, apoios e discordâncias. Ele é, sem dúvida, dos grandes escritores brasileiros, um dos mais controversos, capaz, até hoje, de provocar polêmicas. Eu sou suspeito para falar, pois minha alfabetização escolar foi feita a partir de um livro dele. Foi no Grupo Escolar Minas Gerais, como aluno da professora Ofélia Godoy na primeira série do Ensino Primário, que li meu primeiro livro, e o primeiro livro a gente nunca esquece, não é? Com a ajuda da minha mãe, escolhi o livro, Caçadas de Pedrinho; cada aluno tinha até o final do primeiro semestre para ir à frente da sala e ler um trecho. Guardo o livro até hoje, uma bela edição, capa dura, encadernação caprichada, costurado, desenho da capa de Augustus, pseudônimo do artista plástico Augusto Mendes da Silva (1917-2008). As ilustrações internas eram do artista haitiano André Le Blanc (1921-1998) para a edição de 1958, a 13ª edição, da Editora Brasiliense, uma das mais respeitáveis editoras do Brasil. Como eu gostava daqueles desenhos, tão ingênuos no traço, mas tão criativos, complementando muito bem o texto!
Sim, Monteiro Lobato foi um dos mais importantes escritores brasileiros, e isso não se discute. Ele nasceu em 18/04/1882 e morreu em 04/07/1948, foi um autor admirado e estudado, amado por gerações de crianças que tiveram a oportunidade de ler suas obras infantis, ditas do Sítio do Picapau Amarelo. Neste ano, quando nos distanciamos 70 anos de sua morte, isso tem um significado especial para o mundo editorial, pois seus livros caem no domínio público.
Pesa, entretanto, sobre ele uma grave acusação, difícil de ser entendida e absorvida por seus admiradores e estudiosos: a de racismo. Num mundo em que a luta contra a discriminação tem de ser constante e inflexível, como compreender isso? Nem se trata de fazer a distinção entre autor e obra, a discriminação está na obra. Por outro lado, como entender o conto “Negrinha” senão como um libelo contra a discriminação, o racismo e a escravidão? Somos todos contraditórios, Monteiro Lobato em especial. Mas não se pode transigir nessa área, racismo é imperdoável e deve ser combatido. Por outro lado, não se deve mutilar e abolir o autor e sua obra do cenário escolar ou literário, mas considerá-los no devido contexto. Creio que o correto é o fortalecimento de políticas públicas antidiscriminatórias e uma permanente discussão pedagógica capaz de transformar a realidade.
A leitura da obra de Monteiro Lobato é importante e necessária, mas defendo que seja feita com acompanhamento de perto por professores bem preparados, em condições de contextualizar e discutir o assunto de forma crítica. É ingenuidade considerar que as ideias não mudam, que as interpretações que se fazem de um autor e de sua obra continuam as mesmas para a eternidade. Vamos em frente!
(*) Renato Muniz B. Carvalho