Já se tornou corriqueiro afirmar que as pessoas leem cada vez menos. Quem diz isso geralmente se refere aos livros, em especial os de literatura — romances, poesia, contos, crônicas —, sejam impressos, digitais ou audiolivros. Sem negligenciar a importância de jornais, revistas, folhetos, gibis, cartas, avisos, revistas científicas e até outdoors —, pois todos são fundamentais para decifrarmos o mundo em que vivemos —, os livros têm o poder de nos distrair das agruras que nos afetam, que nos entristecem. Sim, leitura também é lazer, diversão e descanso.
Mas a leitura não se restringe às letras, à chamada cultura letrada, ao aprendizado escolar. Não são poucos os que sabem ler o mundo, as nuances da realidade, os sinais do meio ambiente, as sutilezas da alma humana. Essa é a riqueza da leitura, ou melhor, das inúmeras leituras que fazemos ao longo da vida.
Muita gente se entrega com prazer à leitura — é comum aceitarmos seu convite na forma de ações individuais ou coletivas. As pessoas querem participar de eventos, como bienais do livro e festivais literários, ou de simples atividades, como clubes de leitura. Outros preferem a leitura solitária, silenciosa, feita no quarto antes de dormir ou no último banco do ônibus, no fim de um dia cansativo de trabalho. São inúmeras as iniciativas para estimular e entender como a leitura funciona e se transforma ao longo do tempo. Pesquisadores buscam respostas, entidades encomendam pesquisas e análises especializadas, editoras desenvolvem campanhas para aumentar as vendas, tudo para ampliar a quantidade de leitores e, como decorrência, também contribuir para o progresso social.
Se você perguntar por aí, dificilmente alguém vai negar a importância dos livros, a necessidade da leitura. Virou lugar-comum dizer: “vamos ler!”, “quantos livros você já leu?”, “qual foi o último romance que você leu?”, e por aí vai. Mas as contradições aparecem quando olhamos a realidade mais de perto. Outro dia, saí para comprar um abajur na cidade onde eu estava. Gosto de ler à noite, quando é mais silencioso e percebemos que o dia já deu o que tinha que dar. Abajures não são, na minha concepção, apenas objetos de decoração; são ferramentas indispensáveis. Ler, além de certa dose de concentração e de gosto pela coisa, exige luz, uma boa poltrona, ou uma mesa e uma cadeira adequadas, silêncio e, claro, bibliotecas, livrarias, sebos, programas de TV e de rádio que falem sobre livros e autores. Óculos, se for o caso. Praças arborizadas e outros ambientes favoráveis também é bom. Mas, acreditem: não encontrei.
Quase sempre, faltam mais do que abajur ou óculos — faltam vontade e políticas públicas de estímulo à leitura. Não tenham dúvida, se não nos mobilizarmos, bibliotecas serão fechadas, livrarias darão lugar a lojas onde os livros serão objetos secundários e ler passará a ser apenas uma mania esquisita de meia dúzia de pessoas.