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O berne e a geopolítica

Renato Muniz
Publicado em 15/09/2025 às 17:48
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Um dia desses, um berne quase causou um incidente internacional. Coisas da geopolítica. Eis uma das ciências mais empolgantes do mundo moderno. Você sabia? Ela estuda as relações entre as nações, suas disputas territoriais, a formação dos Estados nacionais, guerras diversas, fronteiras, entre outros assuntos. O rol dos temas estudados engloba desde episódios banais até cataclismas mundiais. Das bombas atômicas lançadas sobre o povo japonês na Segunda Guerra Mundial a um berne infectando uma vaca estadunidense, tudo conta. Alguma dúvida?

Falando em bernes, eis um bichinho curioso, inusitado, verdadeiro parasita. A rigor, trata-se de uma larva, um estágio na evolução da mosca-berneira, embora isso não deva fazer parte do currículo dos cursos de Relações Internacionais. As larvas da mosquinha se desenvolvem na pele, ou no couro, do hospedeiro, inclusive nos humanos, ocasionando uma ferida purulenta, incômoda.

Eu já tive essa experiência e não recomendo a ninguém. Não foi agradável. É que eu vivi longos períodos no meio rural. Num país com precárias condições socioeconômicas, como o nosso, a população está sujeita a enfermidades de vários tipos: febre amarela, dengue, malária, etc. Sem esquecer dos terríveis carrapatinhos que se agarram às nossas pernas e dão trabalho para serem retirados.

Na roça, o berne surge sem que a maioria perceba. À medida que o bichinho se instala e se desenvolve, a pele fica vermelha, começa a coçar e, quando a gente se dá conta, o cara está dentro, tendo só um buraco para respirar e expurgar excrementos. Os bovinos e os cães são os mais afetados. Lá na fazenda do meu avô, o costume era preparar um baldinho com óleo queimado e algum veneno para “pintar” o couro das criações e evitar infestações ou extirpar os já instalados.

Há relatos de turistas que, após visitarem regiões onde o berne viceja, voltaram para seu país de origem com um deles de contrabando, sob a pele. Se é verdade, não garanto, mas há casos de óbito, de bernes localizados no couro cabeludo e situações graves envolvendo crianças.

Lá em casa, se alguém apanhasse um berne, a solução era espremer o parasita até a sua completa expulsão. Não era fácil encontrar uma pessoa disposta a executar a complexa operação, dolorida e vexatória. E não dava para culpar o pobre coitado do infectado. Distraído? Não viu a mosca se aproximar? Não.

Os países do Norte Global morrem de medo dos bernes invadirem seus pastos e infectarem seu rebanho. Estariam preparados para um evento de tal magnitude? A invasão dos EUA pelos bernes, já pensaram? Pode estar acontecendo. Os médicos estariam preparados para removerem bernes em humanos? Talvez precisassem cumprir um estágio nos países do hemisfério Sul, bilhões de dólares em medicamentos e trabalho duro para evitar perdas. E se a vitória dos bernes gerar uma crise diplomática? Será um revertério político sem precedentes. Coisas da geopolítica, mas acontece.

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