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O cavalo

O José Antônio é um conhecido meu, um tanto excêntrico, mas boa gente. Ele é trabalhador...

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 21/05/2017 às 11:23Atualizado em 16/12/2022 às 13:13
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O José Antônio é um conhecido meu, um tanto excêntrico, mas boa gente. Ele é trabalhador, honesto, joga futebol aos domingos, faz caminhadas, bebe uma cachacinha nos fins de semana, admira música sertaneja e gosta de bichos, como muitas pessoas hoje em dia. Acontece que exagerou numa questão aparentemente corriqueira. Não sei o que lhe deu na cabeça, mas ele queria criar um animal de estimação no apartamento onde mora, no 12º andar de um edifício residencial. Não estranhem, até aí tudo bem, isso é normal, aceitável, quase todo mundo tem seu cãozinho, seu gatinho, passarinhos, iguanas, hamsters, etc. Qual é o problema? Muitos até consideram o bichinho como filho, irmão, neto... Mas o Zeca, como nós o chamamos, queria criar um cavalo. Pois é, um cavalo!

A convenção do condomínio não fazia restrições a animais domésticos, muitos moradores os possuíam. Nenhuma cláusula mencionava proibição a cavalos. O Zeca argumentou: “Qual é a diferença entre ter um cachorro e um canguru? Entre um gato e uma jaguatirica? Então, cavalo não pode?”. E não é que ele descobriu que a moradora do 8º andar tinha um macaco! Qual era o problema com um cavalo? E avisou que iria até o Supremo Tribunal se lhe negassem o pleito.

Não houve meios de impedir e, numa tarde ensolarada, um caminhão boiadeiro chegou com o cavalo do Zeca na portaria. Era um belo alazão, crina comprida, bem penteada, cauda aparada, sem dúvidas um esplêndido animal! Difícil foi descê-lo do caminhão sem um embarcador adequado. Juntou gente, apareceram palpiteiros, mas o Zeca não permitia que encostassem sequer a ponta do ferrão no pobre equino, àquela altura do campeonato pra lá de assustado. Difícil mesmo foi subir o cavalo pelo elevador, de serviço, pois o síndico, que já tinha sido convocado para acompanhar a operação, não admitiu que a cavalgadura embarcasse no elevador social. Onde já se viu! Bichos, mesmo sendo considerados da família, têm de usar o elevador de serviço!

O pobre animal foi colocado no elevador, a contragosto, humilhado, cabisbaixo, e conduzido até o 12º andar. Ainda bem que o elevador suportou os 600 quilos do alazão, aliás, do Soberbo, pois bicho de estimação que se preza tem nome, às vezes sobrenome, não é?

Depois que subiu, foi fácil fazê-lo entrar no apartamento. E lá se foi o Zeca apresentar o apartamento ao ilustre Soberbo. Tinha preparado um quarto especial, com palha, tanque d’água e ração no cocho. Colocou uma placa na porta: “Soberbo”. O cavalo podia passear onde quisesse, e coubesse, pelo apartamento. Não cabia nos banheiros, muito menos no lavabo, mas até na cozinha podia entrar. Como não usava ferradura, não incomodava o vizinho de baixo. Às vezes, relinchava, mas isso nunca atrapalhou ninguém. Complicado mesmo foi ensinar o bicho a fazer suas necessidades na área de serviço. Mas tudo se resolve. Coisas da vida moderna!

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