Em algum momento, na virada do século XX para o XXI, começamos a nos familiarizar com as ferramentas de comunicação denominadas “redes sociais”. Parecia que o mundo estava encolhendo e, ao mesmo tempo, se expandindo, uma expansão sem fim, maravilhosa e perigosa. Muita coisa mudou de lá pra cá. As redes sociais permitiram uma fantástica interação entre pessoas com acesso a um celular, um computador ou aparelhos semelhantes. Elas facilitaram as conversas, a troca de informações, de imagens e vídeos, de insultos, de propaganda, de notícias falsas e das mais incríveis fantasias. Espantoso para uns e inexplicável para outros. O mundo se transformou.
O curioso em tudo isso é que a promessa de uma nova era de esclarecimento acabou gerando tanta desinformação, disparates científicos e confusão mental em algumas pessoas e grupos sociais que travou ou, no mínimo, embaraçou eventos promissores e positivos que se acreditava duradouros e irrevogáveis. A revolução digital trouxe consigo também retrocessos, descrença no futuro e ameaças autoritárias, que muitos consideravam superados. Foi algo pensado ou aconteceu de forma espontânea? Um novo iluminismo foi abortado justamente por aquilo que deveria dar-lhe maior força e capacidade de avançar. Contraditório, né?
Pois agora, tudo mudou. De novo! Outro dia, vi na internet — é claro! — que as redes sociais estão condenadas ao desaparecimento. Vão sumir devido a transformações no espaço cósmico. A esperança é que ficassem nas nuvens e nos liberassem para que tivéssemos um pouco mais de privacidade, sem atormentar o que de humano nos restou. Mas não, anunciam o seu fim, acabou a brincadeira.
Confesso a vocês que fiquei preocupado. Deveria ter ficado aliviado, mas no instante seguinte, após a euforia da libertação, bateu aquela preocupação inevitável, além de uma inconsolável desolação. Pela primeira vez desde os anos 1990, senti medo de ficar sozinho. Não tinha mais telefone, joguei fora faz muitos anos as últimas listas telefônicas e me desfiz das minhas cadernetinhas de endereços. Afinal, no século XXI, tudo se resumiu aos contatos de celular, às agendas eletrônicas, às redes sociais.
Um turbilhão de sensações desencontradas passou pela minha cabeça. Comecei a fazer contas mentais, tentei elaborar um inventário das coisas reais que ainda pudessem ter escapado da fúria informacional. Perguntas irrespondíveis povoaram minha cabeça. Vão acabar as selfies? Onde foi que coloquei minha velha máquina fotográfica? As pessoas vão voltar a frequentar as varandas, as calçadas, as praças, as bibliotecas? As ações das empresas de informática vão despencar? Vão ressuscitar o radinho de pilha? O que será do mundo? Como se sentirão os youtubers acostumados à bajulação de milhares de seguidores? As pessoas que saíram pelo mundo de kombi ou de bicicleta continuarão sua jornada sabendo que não terão mais as costumeiras curtidas? E a política? Sobreviverá sem as redes sociais? Travei.
Renato Muniz B. Carvalho