Disposição para brincar não faltava aos irmãos. Os quatro meninos formavam uma escadinha, como gostava de dizer uma tia paterna. A diferença de idade do mais velho para o mais novo era de apenas seis anos. Às vezes, o caçula ficava pra trás, sob protestos veementes, mas gostavam de andar por aí sempre juntos.
A tia dava notícias dos passeios que os quatro empreendiam nas tardes quentes e poeirentas das férias passadas na fazenda do avô. “Aldinha, você viu os meninos?”, “Aldinha, chama os meninos para tomarem lanche!”, e lá ia a pobre tia Alda atrás deles, descobrir por onde andavam e o que faziam.
Cada um carregava seus pertences, seu lanche e outros objetos mágicos num embornal. Um canivetinho sem ponta, algum pedaço de barbante, um estilingue, várias pedrinhas caprichosamente selecionadas dentre as mais redondas, algumas laranjas azedas, e, às vezes, espalhado lá dentro e esfarelando, um bocado de bolacha ou de rosquinhas. Vez ou outra, carregavam objetos diversos, achados e perdidos, uns muito úteis, como uma gaitinha, uma lanterna, e outros nem tanto, como um clipe para papel.
O embornal, ao lado da botina mateira e do chapéu de palha, mais do que uma mera sacola para transportar coisas de menino, era o que compunha a identidade de cada um, o salvo-conduto para aventuras, sonhos e longas viagens até o corguinho que passava no fundo do quintal. Coisa chique esse embornal! Feito de retalhos, de sobras de tecido, não tinha um igual a outro, o que ajudava a não se confundirem e evitava desentendimentos. Cada um tinha uma alça, conforme sua altura, e um tamanho, de acordo com o desejo do freguês, seus sonhos e a capacidade de levar os apetrechos em longas jornadas até a hora do banho ou do lanche. Se sujassem muito, se a laranja ou a manga amassassem lá dentro, se a bolacha esfarelasse, era só lavar e pôr no varal para secar. Na manhã seguinte, estava pronto.
Um dia, os quatro resolveram atravessar o córrego, cuja água dava nos joelhos dos três mais velhos. Mas o mais novo... Ficaram com receio de que fosse levado correnteza abaixo. Desistiram da empreitada? Que nada! Amarraram os embornais formando uma corrente, prenderam na cintura do caçula e o arrastaram de uma margem à outra. Aventura e tanto! Foram até um pé de manga sabina e retornaram. Na volta, usaram a mesma estratégia, só não perceberam a hora em que a botina do mais novo foi-se embora, água abaixo. Que volta difícil! O caçulinha sem-botina amaldiçoou a decisão de atravessar dentro d’água ao invés de passar na pinguela que ficava do lado! E subiu até a casa com o pé todo machucado por conta dos espinhos e das pedras do caminho. Prometeu que nunca mais ia aceitar ser arrastado pelos irmãos amarrado em embornais. Pelo menos até a próxima vez...