ARTICULISTAS

O fim dos insetos

Renato Muniz
Publicado em 03/11/2025 às 17:38
Compartilhar

Estou contrariado com uma atitude que tomei. Sim, estou arrependido por ter feito uma compra e não ter pensado nas consequências. Será que devolvo? Eu conto: ontem à tarde, saí de casa com a firme disposição de comprar uma raquete desinsetizadora, também conhecida como raquete elétrica ou raquete mata-mosquito. Você pode achar bobagem, reflexão inútil da minha parte, perda de tempo, preocupação desproposital em relação aos graves problemas do mundo atual, mas não. Vou explicar.

Essa raquete foi inventada para eliminar insetos sem a necessidade de espalhar venenos por aí. Se fosse só por isso, já seria de grande serventia. Seu funcionamento também livra o freguês de sair distribuindo chineladas e palmadas no ar, sujando paredes e outras superfícies. Elas servem para matar moscas, mosquitos, pernilongos e outros insetos inconvenientes. Inconveniência sob o ponto de vista dos humanos, em especial dos habitantes das cidades, bem entendido.

Nos últimos anos, essas raquetes importadas se popularizaram. O curioso, no que se refere ao tema, é que a população de insetos diminuiu enquanto aumentou a difusão das raquetes, mas não deve haver correlação de causa e efeito entre as duas coisas. Elas eliminam insetos, mas são outras as causas envolvidas na diminuição desses invertebrados que nos afligem. As raquetes podem ter pouca utilidade daqui para frente, mesmo assim eu comprei uma, pois não quero ser picado por mosquitos.

A questão é que acabo me sentindo culpado por colaborar com o decréscimo dos insetos. Muitos estudos sérios sobre o assunto afirmam que a população deles está diminuindo rapidamente em todo o mundo. É necessário anotar que essa redução não é homogênea, mas traz um alerta. Preocupa-me em especial o caso das abelhas e outros polinizadores, pois boa parte da produção agrícola depende da ação desses e de outros insetos que controlam as chamadas pragas. Sem biodiversidade, a produção fica comprometida e inúmeras doenças podem aumentar de forma descontrolada.

Sem dúvida, o aquecimento global e o uso crescente de agrotóxicos estão envolvidos na origem do problema. Inúmeros são os alertas, as reuniões, os artigos científicos e livros publicados e debatidos desde a década de 1950. Alguns gestores e grupos interessados na expansão do uso de venenos e na sua comercialização parecem desconhecer, ou esconder o assunto, e negam os malefícios à saúde humana.

É curioso: conseguimos eliminar insetos com raquetes elétricas, mas não abolimos o uso de venenos. Não é melhor garantir a manutenção da biodiversidade, reverter o impacto das mudanças climáticas, pensar com autonomia crítica e agir com mais respeito à vida humana, animal e vegetal? Uma vez exterminados os insetos, entre outros animais e plantas, iremos usar a inteligência artificial para recriá-los? Deplorável é não conseguir substituir agrotóxicos por práticas saudáveis, ruim é desmatar e não controlar a emissão de gases de efeito estufa. É incompetência nossa ou há interesses escusos na jogada?

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por