O frio me deixa com dificuldade de pensar. Fico tão preocupado em proteger o corpo que esqueço de raciocinar. Para começar, acordo gelado, pois o cobertor, invariavelmente, foi parar no chão devido ao tanto que eu me mexi tentando tapar os pés, a cabeça e outras partes, sem sucesso. Assim que me levanto, a dúvida é qual roupa escolher para minorar os danos, isto é, o frio. Bermuda, nem pensar, muito menos camiseta; por outro lado, o casaco forte, aquele que aguenta o frio mais intenso, não tem cabimento usar dentro de casa. Se deixar, passaria a manhã debaixo do cobertor, decidindo qual a vestimenta mais adequada para suportar o frio.
Nessas horas, de procura por uma fonte de calor para me esquentar, percebo que isso me tira do foco, da necessidade de sair, de enfrentar a vida, o dia, o trabalho. A ponta dos dedos esfria e eu me pego esfregando as mãos, maldizendo a hora em que não coloquei uma meia nos pés. Em qual parte do corpo eu mais sinto frio? É o pescoço? Corro atrás do cachecol, que, certamente, está bem escondido, pois é o tipo de peça que nós, aqui nos trópicos, pouco usamos. Meias de lã? Esquece, não fazem parte do vestuário. Colete? Quando saio às ruas com um, chamam-me de esnobe. É só frio, gente, preciso proteger o peito, e não ostentar roupas distintas.
Acho o inverno uma estação chique, as pessoas, tendo ou não condições financeiras, vestem-se de modo formal; algumas usam boinas, luvas e até tapa-orelhas. O tom dos tecidos varia pouco: preto, cinza e marrom. Por que cargas d’água acham que o inverno é soturno, sóbrio, sem estampas coloridas?
Mãos nos bolsos, pescoço encolhido, sono, as pessoas saem às ruas desejando um bocadinho de sol. Antigamente, chamavam de nesga de sol. Parece que o jeito antigo de sentir frio era diferente.
O frio não é o mesmo para todos, ainda que a temperatura esteja abaixo dos 20 graus, cada um sente o frio de um jeito. Alguns não têm casacos, dependem de doações. Outros ostentam casacos novos a cada estação e lamentam não viverem nos países do norte global. Que ilusão! Será que sabem que o frio mata, tanto quanto o calor extremo? Pobre de nós se não mudarmos logo nossa maneira de viver, se não tomarmos providências urgentes para diminuir os efeitos das mudanças climáticas.
Talvez alguns não sintam tanto os efeitos das mudanças climáticas, mas certos organismos podem desaparecer da face da Terra se a temperatura média aumentar. Alguns tipos de corais, insetos, anfíbios e plantas são mais sensíveis e estão desaparecendo. Vão fazer falta, teremos mais desequilíbrios.
Tem gente que não liga paa isso, nega as mudanças, parece não se importar com as gerações seguintes. O que fazer? Esperar que voltem ao passado e se escondam em alguma caverna, só pode!