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O homem que virou bit

Renato Muniz
Publicado em 22/09/2025 às 19:25
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Eu tinha um conhecido que se encantou com a informática, com o mundo digital, com as maravilhas da eletrônica. Encantou-se de tal forma que virou um bit. Sim, eu sei que é espantoso, quase inacreditável, mas não é fake news. Aliás, o assunto nem saiu na imprensa. Já tivemos, no passado, homem que virou suco, homem que virou lobisomem; agora, os tempos são outros. O que eu vou relatar para vocês faz parte de um dossiê reservado. Recebi de um amigo e ele pediu para não divulgar.

“Bit”, como todo mundo sabe, é uma unidade usada na informática. O termo vem do inglês e significa dígito binário. É a menor unidade existente, até agora. Um byte é formado por 8 bits. Daí para frente, as grandezas são medidas em milhões, bilhões. Os números atingem trilhões e são expressos em megabytes, gigabytes, terabytes e por aí vai, infinitas possibilidades. Aliás, se eu aprendi alguma coisa de matemática no Ensino Fundamental foi o conceito de infinito, usado em vários campos do conhecimento. No passado, pessoas foram mortas por causa desse conceito. Segundo consta nos livros de história, foi uma das razões do infortúnio de Giordano Bruno, crítico da Igreja da época, defensor de teorias avançadas para seu tempo, condenado à morte por heresia. E olha que nem era comunista. Mesmo assim, foi queimado vivo na fogueira da Santa Inquisição em 1600. Vamos em frente, senão vai faltar espaço no final desta crônica.

Como foi o processo de transformação do meu conhecido em bit? Tudo começou com uma dependência crescente do celular. Se no começo, nos anos 1990, o celular era apenas um aparelho para fazer ligações telefônicas, transformou-se rapidamente no mais importante eletrodoméstico do século XXI. E nem chegamos à metade do século, hein?

A vida passou a ser controlada, administrada e conduzida pelo celular, pelos aplicativos, pelas redes sociais e seus donos. Tudo o que existia até então foi inserido no aparelhinho: músicas, fotos, agenda, finanças, conversas, sentimentos, alimentação, descanso, tudo. Pensa numa coisa que não está nos celulares hoje em dia. Não existe. Se você quer entrar num prédio, reconhecimento facial; quer fazer um lanche, peça comida por um aplicativo; quer se locomover de um canto a outro, aplicativo. Vai viajar? Compre as passagens no site da companhia aérea. Precisa emitir um documento? Faça tudo pelo celular. Exames médicos? Namoro? Leitura? Não tem escapatória, você vai precisar de um celular. Quem não tem o aparelho, é chamado de analfabeto digital — e ponto final, será excluído, ridicularizado, eliminado da convivência social. Não lhe restará nem o boteco da esquina, a televisão, a pracinha do bairro — vai precisar de um leitor de QR Code como credencial.

O ritmo da vida mudou. No caso do meu conhecido, a alteração foi total, completa, resignou-se ao sistema informacional, perdeu sua identidade, virou um reles bit. É triste.

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