Outro dia, escrevi sobre um paninho. Hoje, volto ao assunto, mas não é repeteco. Há uma pequena mudança na questão. Os bons observadores já devem ter notado: a diferença é o artigo “o” lá no título. Se o paninho do texto anterior era um objeto indefinido, o do texto atual existe, mora lá em casa, cumpre suas funções no cotidiano da família, tem história e, um dia, como todos nós, vai desaparecer, vai para a reciclagem ou para o aterro sanitário – o paninho, bem entendido; nosso destino é outro. Nesse ponto, os paninhos são iguais, ambos têm uma existência efêmera, enquanto objeto auxiliar de limpeza. O paninho foi uma camisa, que usei bastante, até acabar, enquanto camisa.
Quando nova, foi a festas, a recepções, shows, sessões de teatro e ao cinema. Vestido com ela, dei aulas, proferi palestras, viajei, fui às compras, visitei amigos e parentes. Era uma camisa de gola, discreta, tecido de algodão. Difícil era passar, ainda mais para um analfabeto no assunto, como eu. Durou bastante, afinal, sou cuidadoso com minhas roupas, por uma questão de economia e atitude ecológica. Por que me desfazer de roupas durante o tempo em que elas ainda cumprem sua função? Não vou sair por aí com roupas rasgadas, mas sei até quando usar uma camisa antes de substituí-la. Jogar fora, só em última instância, como estragos provocados por catástrofes ou guerras, por exemplo. Que trágico!
Às vezes, fico com raiva do paninho. Ele se esconde, desaparece quando mais precisamos dele. Some das vistas, vai ver está misturado com outras companhias: barras de calças que viraram bermudas, camisetas furadas, pedaços de toalha que recusei descartar. Será que conversam? Trocam reminiscências? Creio que não, quem faz isso com maestria são os livros, os discos e os quadros na parede, no silêncio das noites escuras. Preconceito da minha parte? Tomara que não! Paninhos são fuxiqueiros, mas não parecem ligar para saudades e recordações. Se paninhos falassem! Não quero nem imaginar.
Falando em livros, tenho sempre um paninho no meu escritório. É preciso tirar a poeira acumulada. Como junta poeira ao longo do ano! Parece que vamos morrer sufocados. Haja paninho! Também são úteis na cozinha, no banheiro e na varanda. Quando derrama água de algum vaso de samambaia, só o paninho para dar conta.
Carrego paninhos no carro e um lenço no bolso de trás da calça. São úteis em viagens e passeios. Espero não ofender os lenços ao equipará-los a paninhos. Não gosto de discriminações. Sei que os lenços são sofisticados, não costumo limpar sujeiras quaisquer com eles, a não ser caca de nariz. Já o paninho não reclama de pegar no pesado. Afinal, não vou misturar lágrimas com o respingo de sumo de manga que caiu na minha camisa. O que está fazendo falta é um paninho para limpar as bobagens que se espalham nas redes sociais.
Renato Muniz B. Carvalho