Alguém já disse que escrever não é fácil. Quanto a mim, ainda não resolvi. Às vezes, é muito difícil, é uma guerra, mas, outras vezes, é uma maravilha, as palavras fluem, eu converso com o texto como se estivesse numa mesa de bar com os amigos, nem reparo nas palavras e elas vêm, leves e despreocupadas. O problema é quando a gente diz bobagens, conta um segredo, fala mal dos outros, deixa a discussão política degringolar, dá mole para a baixaria, começa a reclamar da vida, ai, ai, ai… Nesses casos, é melhor pedir a conta e ir embora.
Conversar é muito bom, qualquer que seja o meio. Eu prefiro o sistema cara a cara, olho no olho, o famoso tête-à-tête, que pode até parecer pernóstico, mas permite examinar a linguagem corporal, observar a expressão facial, o jeito de mexer os olhos, os lábios e as mãos. Tudo fala, comunica, se manifesta; dizem que um olhar revela as intenções mais íntimas, substitui mil palavras.
Na impossibilidade de conversar pessoalmente, o jeito é mandar recado ou escrever um bilhete. Mandar recado é complicado e tem aquela velha história: quem conta um conto aumenta um ponto. A pessoa exagera, distorce a realidade, cede à pressão, dá a sua versão dos fatos. Se possível, evite.
Os telefones vão sair de moda logo, logo. Os velhos aparelhos fixos, que ocupavam lugar privilegiado nas residências de antigamente, que ficavam do ladinho da TV, na sala de visita, estão desaparecendo. Cá entre nós, nunca gostei muito de telefones, a não ser quando fui adolescente. Ah, eu era fã de longas conversas. Coitados dos meus pais, que pagavam a conta! Eu passava horas dependurado no telefone, falando de coisas extraordinárias com meus amigos e amigas. A orelha ficava quente, dolorida. Hoje, nem no celular. O que manda são as mensagens rápidas, os áudios, as figurinhas.
Engastalhado no texto, vou seguindo meu caminho num ritmo aleatório, os assuntos me rodeiam, boêmios e vagabundos, destino errático. É uma distração aqui e ali, é um que chega, outro que sai, um carro que passa, uma notícia ruim, o olhar constante no celular. Será que alguém mandou uma mensagem? Consultar as horas… Garçom! Desce mais uma. Deixa o tempo seguir seu rumo implacável.
Da fala ao documento escrito, não é simples atingir um resultado razoável. As inquietações são muitas, mesmo no silêncio da mais bonita e aconchegante das bibliotecas. Os livros nos inspiram, o ambiente sóbrio nos cativa, tudo conspira para a construção de um belo texto, mas… Cadê as palavras? Estou falando sobre o quê mesmo? Qual é o tema? Será que os leitores e leitoras vão me compreender? Se eu troco uma palavra, isso vai ajudar no entendimento? Vocês entenderam o que eu quis dizer?
Renato Muniz B. Carvalho