Existem diversos tipos de dúvidas, desde as dúvidas frouxas, passando pelas incisivas, as incômodas, até as científicas e as indecisões em geral, sem falar das cruciais, capazes de mudar o mundo. Pensou que as dúvidas fossem todas iguais? Não são. Eu gosto de duvidar das coisas, de questionar as certezas estabelecidas e as situações petrificadas. Não tenho preferências, mas aprecio as dúvidas instigantes, as que impulsionam o pensamento e a própria vida. Admiro as dúvidas com potencial transformador. Elas podem vir acompanhadas de ações práticas ou ficar no plano intelectual para serem pensadas e resolvidas mais tarde. Algumas desaparecem pra sempre nas linhas de velhos cadernos escolares; outras insistem com seus questionamentos contundentes e teimosos, são persistentes e revolucionárias.
O que fazer? Eis uma dúvida que ultrapassa a retórica e se enamora da ação. “O que fazer”, como pergunta primordial, pode indicar caminhos para a transformação social, embora também possa significar impotência, incapacidade de mudar os eventos e acomodação. Não foi por acaso que o revolucionário russo Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido como Lênin, colocou o título “Que fazer?” num livro seu. Escrito no início do século XX, o livro apresenta pontos relevantes para o entendimento da revolução que mudou o mundo.
Além da política, “o que fazer?” pode ser uma dúvida culinária: pão de queijo ou doce de leite? Sopa ou pizza no jantar? Arroz com feijão ou macarronada à bolonhesa? Triste é saber que, nesses tempos difíceis, muita gente não tem sequer o que comer. O que fazer sabendo disso? Silenciar-se ou agir? Que atitude tomar para reverter essa tragédia?
Existem dúvidas necessárias, merecem nossa atençã o que fazer para mudar a atual conjuntura? O que fazer para combater a fome? O que fazer diante da violência doméstica? O que fazer para impedir a morte de crianças? O que fazer para garantir saúde e educação para todos? O que fazer para garantir vacinas em quantidade suficiente para imunizar toda a população? Como escolher bem os candidatos nas próximas eleições? Afinal, eleições podem definir os destinos de um país, não é? Uma boa sugestão é ler para compreender melhor o mundo em que vivemos. Que livro ler? Tente leituras que espaireçam e tragam boas reflexões.
O que fazer? Dormir, sonhar, ter medo, ignorar a história? Dizer que tudo vai dar certo e não fazer nada para mudar a situação? Ao invés de agir, manter-se descrente ou apático? Será essa a solução para os nossos problemas? Não há como prever o futuro, mas escolhas sensatas nos ajudam a encontrar bons caminhos. Terrível é ignorar a existência das dúvidas, tanto quanto é assustador perder a capacidade de se indignar diante das certezas bestas, traiçoeiras e hipócritas. Seria muito bom dar maior valor às dúvidas, por princípio, e brigar pela ciência, pela arte, pela biodiversidade e pela democracia. Alguma dúvida?
Renato Muniz B. Carvalho