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O que mudou?

Renato Muniz Barretto Carvalho
Publicado em 29/05/2023 às 21:23Atualizado em 29/05/2023 às 21:23
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No século XIX, inúmeros cientistas europeus vieram ao Brasil para estudar o território brasileiro, conhecer a natureza e os povos que aqui viviam, suas línguas, seus costumes. Os naturalistas, como ficaram conhecidos esses cientistas, andaram pela Europa, pela América e pelos demais continentes. A maioria escreveu livros e descrições brilhantes, inclusive com ilustrações belíssimas. Muitos se destacaram pelas observações minuciosas que fizeram da paisagem e pela dedicação à ciência.

Aqui, no Brasil, vários deles foram à província de São Paulo, passaram por Minas Gerais, Goiás, pelo Nordeste, e alguns adentraram a Amazônia. O Rio de Janeiro era passagem obrigatória. Darwin passou pela capital em 1832, onde permaneceu por três meses. O francês Saint-Hilaire, botânico que produziu relatos de viagem valiosos sobre o centro-sul do Brasil, viveu no país entre 1816 e 1822. Segundo consta em sua biografia, ele enviou para a França mais de 30 mil amostras, sendo 24 mil exemplares da flora e seis mil da fauna, incluindo milhares de aves e insetos e dezenas de mamíferos, além de répteis, peixes e moluscos.

Para citar dois entre os mais conhecidos, os alemães Spix e Martius aqui estiveram entre 1817 e 1820. Sua obra “Viagem pelo Brasil” ainda hoje é uma das mais estudadas, considerada um clássico daquele período. Na obra “Flora Brasiliensis”, Martius documentou inúmeras plantas brasileiras, com destaque para seu valor medicinal e econômico. Autores que se dedicaram a estudar o trabalho dos naturalistas julgam de valor incalculável suas pesquisas e publicações, baseadas tanto nas observações que fizeram quanto no vasto material a que tiveram acesso.

Por mais que estudemos suas obras e suas vidas, ainda será pouco. No século em que o Brasil tentava superar a colonização, a vinda desses cientistas foi muito importante. Mas a questão que se coloca é a seguinte: se naturalistas viessem ao Brasil hoje, para fazer seus estudos, o que encontrariam? O que mudou nesses anos todos?

É preciso considerar que muitas plantas e animais chegaram a partir de 1500, entre eles o gado bovino, a cana-de-açúcar e o café, mas muitos vieram recentemente, como a soja, introduzida no início do século XX, embora sua expansão comece para valer nos anos 1970, tornando-se o principal item de exportação agrícola. Quanto ao trigo, os primeiros grãos foram plantados nos primórdios da colonização, ganhando força após a vinda dos imigrantes italianos e alemães. A braquiária, gramínea africana, popularizou-se na década de 1960, dominando as pastagens atuais. Mangueiras e eucaliptos apareceram antes; a manga, ainda no século XVII, e o eucalipto, para uso comercial, em 1865. Hoje, não é possível pensar a paisagem brasileira sem considerar essas espécies, entre outras. O que aconteceu com a flora e a fauna nativas? O estrago feito pelo desmatamento e pelos incêndios foi devastador. O que sobrou? Se não modificarmos algumas atitudes, a resposta pode ser um enorme constrangimento.

Renato Muniz B. Carvalho

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