Renato Muniz B. Carvalho
Você sabe o que vai acontecer amanhã? Provavelmente, não; muito menos eu. Se soubéssemos, teríamos comprado o bilhete premiado da loteria. Será que alguém sabe? Aquela senhora que lê cartas de baralho e que prega cartazes nos postes, será que sabe? A propaganda dela fala de amor, de dinheiro, de trabalho, mas pouco menciona o futuro. Quem faz previsões sobre o futuro é o pessoal da climatologia e o pessoal do mercado financeiro. Nos primeiros eu confio.
Dona Zulmira, a vidente dos cartazes nos postes de luz, promete prosperidade, o amor de volta e curas milagrosas. Daí, resolvi procurá-la. Estive no seu consultório e ela garantiu que resolveria todos os meus problemas, inclusive a coceira nas unhas. Gostei da segurança, da autoconfiança que ela demonstrou ter, mas não voltei. E se ela falasse algo que me desagradasse? Se ela descobrisse algo que nem eu queria saber? O que você faria?
Certa vez, tentei aprender a ler mãos. Achava aquilo maravilhoso. Passava horas olhando a palma da mão dos outros. Mas percebi que era analfabeto no assunto. Teria ficado anos na primeira série, o negócio não me entrava na cabeça. Aí, me aventurei na leitura das letras. Sem ironias! Fiz cursos de grafologia por correspondência, fui a consultas espirituais, frequentei congressos, assisti a palestras, comprei livros sobre o tema… Como ninguém me levou a sério, desisti da profissão de leitor de letras. Não cheguei a atuar profissionalmente e não cobrei nada dos meus clientes. Nessa hora, do pagamento, eles me olhavam entre aliviados e desconfiados e eu ficava sem jeito. Não sabia quanto cobrar pela consulta. Procurei alguma associação de leitores de mãos, de caligrafias e de baralhos místicos, mas não achei. Se existe, é secreta. Se existisse, o pessoal poderia me fornecer uma tabela de honorários, o que facilitaria minha vida. Mudei de ramo.
Resolvi ler as nuvens, não essas da internet, dos dados que ficam escondidos em bases obscuras do meio digital, mas as nuvens do céu. Estudei os tipos básicos — cirrus, stratus, cumulus —, estudei suas características, a altura em que elas estão no céu e o que representam em relação ao clima. Confesso que fiquei encantado com o que aprendi, mas ainda não era o que eu precisava. No máximo, eu conseguia saber algo sobre chuvas, mas eu queria saber do futuro. Mudei de assunto.
Nessa altura do texto, muitos de vocês devem estar achando que eu sou volúvel, que começo e largo a empreitada cedo demais. É que o tema é complexo. Se a previsão do amanhã fosse fácil, não tinha tanta gente arrependida com os rumos do país. Afinal, todos querem dar palpites e saber os destinos da humanidade, do universo e do amor. Quanto à política e à ciência, melhor ler livros, jornais e artigos escritos, de preferência, por quem estuda o assunto. De acordo?