Histórias em quadrinhos são uma das coisas mais criativas que a humanidade já inventou no campo da narrativa ficcional, da literatura — há controvérsias, mas vamos em frente. Apelidadas também de bandas desenhadas, arte sequencial, comics (EUA), fumetti (Itália), literatura ilustrada, etc., alguns dizem que elas têm sua origem na arte rupestre dos primórdios das sociedades primitivas. Não custa admitir essa descendência ilustre. Também podemos chamar de gibis, nome com o qual se consagraram no século XX em terras brasileiras. Difícil falar da infância sem mencionar os folhetos encadernados e vendidos em bancas de jornal que muitas vezes circulavam de mão em mão e que, ocasionalmente, se tornaram objetos de coleção.
As personagens são elementos-chave para entender a evolução das HQs. Numa época de acentuado predomínio conservador, com histórias feitas basicamente para meninos, os heróis masculinos se destacavam. Fortes, indestrutíveis, espertos, imortais e dotados de poderes excepcionais, possuíam um senso muito particular de justiça e capacidade de solução de questões sociais e geopolíticas — sim, não tem ninguém inocente nessas histórias. Os super-heróis davam a tônica, determinavam o posicionamento da turma.
Aos conhecidos e icônicos Super-Homem, Batman, Homem de Ferro, Hulk e Dr. Manhattan, juntaram-se Flash (o mais rápido), Thor (capaz de controlar os trovões), Aquaman (o rei dos mares) e tantos outros com poderes de voar, prever o futuro, prender criminosos comuns, criminosos de guerra e até vilões de outras galáxias. Convenhamos: apesar de excepcionais na sua fortaleza e determinação moral, eles eram, na sua maioria, reacionários, politicamente falando, defensores de posturas tradicionalistas e machistas comuns nos anos de 1940 a 1970. Mas, não raro, apresentavam sinais de fragilidade psicossocial, comportamentos associados à depressão, solidão e, pode-se complementar, “loucura”, instabilidade emocional, dor psíquica e descrédito com a humanidade. Sei lá o que mais, falo como leigo, é claro! Em tempo: autores e editoras reformularam completamente as narrativas e personagens a partir dos anos 1980.
Deixando de lado esses aspectos sombrios, um dos super-heróis mais curiosos era o Homem Elástico. Sua fantástica capacidade de estender os membros até o criminoso e a possibilidade de esticar as pernas e correr atrás dos bandidos era incrível. E muito mais, tudo o que a imaginação dos meninos permitisse e além. A criatividade estava solta.
Hoje, minha atenção volta-se para o Superplástico, o Homem de Plástico. Há uma mudança sutil, mas relevante em comparação com o herói descrito acima. O tal “super” objeto da minha preocupação tem plástico no organismo e não se sabe ainda as consequências disso no corpo humano. Plástico na forma de microplásticos e nanoplásticos, elementos que estão cada vez mais disseminados e são perigosos ao meio ambiente. Que poderes tem o Homem de Plástico? Guardar sobras de comida? Desenvolver doenças desconhecidas? Poluir o solo e os oceanos? Precisaremos de super-heróis para nos salvar da poluição e da contaminação ou conseguiremos resolver, nós mesmos, mais este problema?