Antes que você ache estranho o título, é bom esclarecer que “onomatopeia” não é um bicho da fauna australiana nem uma lesma gosmenta, é uma figura de linguagem. Você deve ter estudado na escola, nas aulas de Língua Portuguesa. Lembra? Não tem problema, vamos recordar juntos. Elas nos ajudam a dar maior dramaticidade às histórias, facilitam o entendimento dos fenômenos do mundo, entre outras coisas. Toc-toc, por exemplo, está virando um clássico. Significa que estão batendo à porta, chamando alguém. Tem gente que se assusta com o som dos dedos batendo à porta. “Quem será? O que querem comigo?”, pensa logo o freguês.
A lista das onomatopeias é quase infinita, e inventam várias todo dia. Hahaha, rsrsrs, hehehe, usadas nas conversas pela internet para representarem risos, risadas, gargalhadas, etc., são um bom exemplo. Pegou. Deve ser mais fácil guardar e usar uma figura dessas do que uma palavra. Imagine usar “casquinada”, “gaitada”, “zombaria”, “cascalhada” ou “risadagem” para “riso muito alto”. Já ouviu alguém se expressar assim? Kkkkk.
As histórias em quadrinhos usam as onomatopeias sem cerimônia; difícil existir uma HQ sem elas. Pow, buá, grrrr, cof-cof, nem precisa explicar. A essa altura do campeonato, pode-se dizer que todo mundo está alfabetizado em HQs, mesmo sendo analfabeto funcional ou digital. Em alguns casos, são dispensáveis até os balões de legenda.
Meu receio é elas serem substituídas por figurinhas. E aí? Usar uma onomatopeia é fácil, mas uma figurinha… Teríamos de ter um novo teclado? Vitória da escrita dos chineses, pois utilizam ideogramas, imagens pictográficas, uma forma de arte. A utilização de símbolos gráficos é muito remota, os egípcios antigos já usavam os hieróglifos. Os maias também usavam escritas ideográficas. Nem vou citar o sistema Braille, para cegos, nem as línguas de sinais, para surdos e mudos. O que importa é se comunicar.
Os sinais de trânsito estão cheios de “figurinhas”; aeroportos, estações de metrô, rodoviárias, etc., também. Como usar o celular ou o computador sem a devida compreensão dos sinais gráficos utilizados nos arquivos, programas, aplicativos, etc.? Tem muita gente boa estudando isso e não é fácil fazer prognósticos. Será que a linguagem universal do futuro será baseada em figurinhas intercaladas com onomatopeias? Sniff, sniff. Para ampliar o assunto, só faltaria trazer para a cena as siglas e as abreviaturas, tão comuns em países como os EUA e em organismos internacionais.
Numa época em que tem gente assustada com a introdução de novas palavras na língua portuguesa — ou na brasileira —, em que se discute preconceituosamente banheiros unissex e pronomes neutros, tem gente que está anos à frente. Ficarão para trás os que acham que podem deter as transformações inevitáveis que virão na língua. Nessas horas, lembro-me do Bastiãozinho, lá na fazenda do meu avô, chamando as galinhas no fim da tarde: ti-ti-ti-ti. Titica na cabeça ele não tinha.