Nesta altura da pandemia, creio que existem elementos suficientes para algumas reflexões sobre o assunto. Não sei vocês, mas eu continuo ansioso, indignado e consternado, embora o susto inicial tenha passado. Que susto! A pandemia abalou as estruturas. Como nos comportamos? O que aprendemos? Aprendemos alguma coisa? Sim, após mais de um ano, é possível analisar alguns fatos e reconhecer aprendizados. Se há uma coisa que a pandemia confirmou foi sobre a fragilidade da vida, a sua vulnerabilidade, assim como a transitoriedade do conhecimento e do mundo. Sem falar da combinação assustadora que caracterizou as relações entre pandemia e política.
Verdade que a pandemia pegou muitos de nós de surpresa, eis um fato inquestionável, e isso atrapalhou o seu entendimento, pelo menos no começo. Surpresa em termos, pois o pessoal que estuda as questões socioambientais vinha alertando, há tempos, que a destruição e as modificações drásticas do meio ambiente poderiam trazer impactos danosos à vida. Verdade que algumas autoridades negligenciaram a questão para atender a interesses escusos, e isso só fez aumentar a confusão e a desinformação. A pior consequência, entretanto, foi a perda de vidas. Essas pessoas eram parentes, pessoas queridas, conhecidos, amigos e amigas. Faleceram vítimas do vírus, do desinteresse e da incapacidade dos gestores públicos em resolver a questão sanitária. A pandemia representou uma derrota, acentuou as desigualdades sociais, significou a privação daquilo que nos era mais car o encontro, os abraços, as confraternizações, os almoços em família, as conversas de boteco. Um prejuízo triste em termos das histórias que não ouviremos, de experiências que não compartilharemos. Ao invés disso, sentimentos de tristeza, desalento e impotência. Não era uma ocorrência isolada, restrita a um país ou região, criada em laboratório, de fácil controle e passageira; colocou-se como algo assustador.
As reações à pandemia, até aqui, revelaram condutas que estavam ocultas ou dissimuladas. Uma delas, na minha breve avaliação, foi o descaso com o próximo. Foi ruim, constrangedor em muitos casos, perceber o individualismo por trás da recusa em usar máscaras, de comportamentos que minimizaram sua eficácia e da rejeição quanto a adotar medidas de proteção coletiva. Mais do que isso, revelou posturas autoritárias e inconsequentes. Outro comportamento espantoso de se ver foi o de pessoas se colocando contra o conhecimento científico. Parecia um retorno absurdo à Idade Média, aos piores cenários do passado.
Tivemos episódios de solidariedade, de ajuda, de empatia, não há como negar, mas a sensação que fica é que o saldo ainda é negativo. Máscaras poderiam ter sido distribuídas em larga escala como política de governo. As vacinas, como se sabe, poderiam ter chegado antes. Mais campanhas de informação, e não de desinformação, poderiam ter sido veiculadas.
Nada do que foi apontado acima é novidade ou pensamento exclusivo; são questões óbvias, reconhecidas por amplas parcelas da sociedade. Resta um questionament depois disso, voltaremos a fazer tudo do mesmo jeito?