ARTIVULISTAS

Para a Lua, com afeto

Renato Muniz B. Carvalho
Publicado em 18/03/2024 às 19:17
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A Lua sempre nos encanta. Aquela esfera brilhante nos olha lá do alto e gira conosco, misteriosa e bela. Capaz de revelar o destino da humanidade, ela nos cativa e intriga. E tem mais, nunca é a mesma. Ora está redondinha, ao menos parece, ora é uma fina fatia, ora desaparece, some no céu escuro. Aonde ela foi?

Meus pais gostavam de admirar a Lua e nos sentávamos juntos no quintal para observar o famoso e único satélite da Terra. Ficávamos um bom tempo sentados, às vezes quietos e pensativos, às vezes conversando sobre o mundo, o passado e o futuro, até chegar a hora de dormir.

No meio rural e entre os parentes mais velhos, a Lua era cercada de lendas, histórias e segredos. Quantas vezes procurei São Jorge e o dragão até concluir que era pura fantasia. Foram inúmeras as ocasiões em que tentei organizar minha vida de adolescente para cortar o cabelo na “lua certa”, entre outras providências. Como discordar do pessoal que consultava as fases da Lua para a execução de várias tarefas como plantar, colher, cortar, desmamar bezerros, etc.? Era prudente não contrariar os desígnios superiores, não discutir sua intimidade. Pra quê?

A Lua estava lá para ser admirada, respeitada e para controlar os fluxos, as seivas e a própria vida. Tinha a lua certa para plantar mandioca, cortar bambu, começar um emprego novo, fazer limpezas, namorar e casar. Viu só como era importante saber qual a fase certa para fazer as coisas?

Para a criançada que passava as férias na fazenda do meu avô, a lua cheia era boa para passear à noite nos pastos, pescar e visitar os primos e primas que moravam nas redondezas. Além de economizar a pilha das lanternas, tínhamos mais autonomia, podíamos ir mais longe. Até ela desaparecer no horizonte. A lua nova nos forçava a ficar em casa, a escuridão nos apavorava. Ainda bem que o ciclo das fases lunares continua ininterrupto.

Aos poucos, as perguntas que a curiosidade despertava demonstravam a importância da Lua para as marés e para a vida noturna nos ambientes de mata e dos campos nativos. O que seria da astrologia sem as fases da Lua? O que faríamos sem ela na hora em que a conversa acabava? Nessas horas, a gente perguntava: “em que lua estamos?”. Pronto, desinteressadamente, a conversa ressurgia, livrando-nos de pausas constrangedoras.

Espantado eu fico ao saber que ainda tem alguns por aí que não acreditam que pessoas como eu e você já pisaram e caminharam na superfície lunar. São lunáticos ou lunaplanistas? Não acreditam que astronautas foram lá recolher amostras de rochas, fazer pesquisas, mapear crateras e outros pontos do seu relevo. Nessas horas eu me calo, pego na mão da minha namorada e nos afastamos em silêncio para admirar a Lua em paz.

 Renato Muniz B. Carvalho

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