O ser humano é gregário por natureza. Alguns até conseguem viver isolados, mas a maioria está sempre à procura dos outros, prefere ficar junto dos amigos, dos parentes. Muitas das grandes cidades na atualidade são hostis porque, contraditoriamente, dificultam os encontros. Não foi à toa que o poeta cantou: “A vida não é brincadeira, amigo/A vida é arte do encontro/Embora haja tanto desencontro pela vida”. (Vinicius de Moraes). Daí a necessidade constante de sair às ruas, de frequentar praças, de ir a eventos, de dar um passeio, de dar uma passadinha no boteco ou de ir a um concerto da orquestra sinfônica, mesmo numa noite fria e chuvosa.
Nas cidades, não tem local mais coletivo do que as praças. Sei lá quando surgiu a primeira, mas elas são bem antigas. Se estiver comprovada a ideia de que as pessoas necessitam de convivência, a praça precede a própria cidade. Uma turma sentada ao redor de uma fogueira, no mais remoto rincão da idade da pedra, pode ter dado origem às praças atuais. Para citar o óbvio, na Grécia antiga e em Roma elas já existiam. Na Grécia, as praças eram chamadas de ágora, palavra que vem de “assembleia”, de “lugar de reunião”. Caracterizavam-se pela existência de um espaço livre, às vezes com a realização de feiras, além da presença, não obrigatória, de edifícios públicos. Para alguns autores, representavam o lugar da política e das manifestações artísticas. Nas praças da antiguidade grega, todos os cidadãos livres tinham direito a voz e voto. Em Roma, existia o Fórum, o principal centro comercial do Império, o cerne da vida pública, local de cerimônias, de discursos e de embates.
Em todas as línguas - plaza, piazza, square, platz, largo - elas fazem parte indissociável do simbolismo urbano. Minúsculas ou imensas, ajardinadas ou de puro concreto e asfalto, as praças geralmente aliviam as tensões urbanas. Em muitas delas, predominam igrejas, em outras estão escolas, repartições públicas, mercados, pontos de ônibus, estações de metrô, equipamentos diversos ligados às expressões artísticas e à alimentação, quadras de esporte, etc. Pode-se afirmar com certeza: não há uma praça igual à outra. A praça é do povo, como disse Castro Alves, a despeito das ditaduras, das forças de repressão, dos especuladores imobiliários e dos gestores, que impõem seu “não pise na grama”, cortam árvores e plantam cimento.
Que seria das cidades sem as praças? Perderiam sua identidade. As praças permitem que as cidades respirem e pulsem cheias de vida. Significam intervalos, instantes de recreio e de alívio para pés cansados. Ora estão cheias de vida e de agitação, ora estão calmas, propícias ao silêncio e à contemplação. Servem para os comícios e os discursos acirrados dos descontentes, aos vendedores ambulantes, às crianças e aos idosos. Servem para namorar e, se fosse só por isso, já teriam sua existência justificada séculos afora.