ARTICULISTAS

Para quem eu escrevo?

Renato Muniz
Publicado em 09/09/2024 às 18:26
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Vira e mexe, uma pergunta faz meus neurônios trabalharem com maior agilidade: quem lê as coisas que eu escrevo? Pode parecer bobagem, mas isso importa. Algumas pessoas devem ler, mas não sei quem são, onde estão ou quantas são. Pensando nisso, surge outra questão: para quem eu escrevo? Achei melhor fazer uma lista, correndo o risco de me esquecer de uns e outros; essas coisas sempre acontecem, né?

Escrevo para os usuários do transporte coletivo, às vezes tão maltratados. Nos ônibus que cortam a cidade, tenho notícias de leitores que encontram jornais esquecidos nas poltronas. Escrevo para os leitores que circulam nos escritórios de advocacia e de contabilidade em momentos de calmaria, que são raros. Escrevo para os que recebem o jornal em casa. Escrevo para…

Escrevo para a moça que trabalha na recepção do consultório médico. Ela é quem seleciona as revistas e jornais que estarão à disposição dos pacientes na sala de espera ao longo do dia. Ela chega cedo, organiza o espaço e escolhe o que o público vai ler. No final da semana, quando sua jornada acaba, as revistas coloridas vão para a reciclagem ou para o armário dos guardados. Será que, em algum momento, sobrou um tempo para ela própria ler o jornal? Além das fotografias, das manchetes sobre crimes, ela deve ter passado os olhos naquele texto de título diferente, a minha crônica. Tomara!

Eu também escrevo para os pacientes que passam pelo consultório. Fico atento aos que preferem ler o jornal, sem se desinteressarem pelas revistas coloridas. O que os seduz? Uma manchete atraente? Uma notícia chocante? Uns vão pular a crônica localizada nas primeiras páginas, mas é sabido que vários param para ler o discreto texto. Ufa! O maior ganho é quando são chamados para a consulta depois de terminarem a leitura. Desejo muita paz e saúde!

Escrevo para os amigos e amigas que frequentam as salas de professores nas escolas por aí afora. Ao chegar para as aulas, muitos costumam folhear o jornal, hábito construído ao longo do tempo, desde a faculdade. Alguns deles conversam comigo. Sei que alguns comentam as notícias e os textos em suas aulas e, entre as leituras selecionadas, estão as minhas crônicas. Assim, ela chega aos estudantes. Façam bom proveito!

É bom saber que tem gente que lê o que escrevo. Fazem suas reflexões sobre o cotidiano, sobre os temas do nosso tempo e de outros tempos. Que se divirtam – isso é necessário. Fora isso, no meu caso, é, também, uma oportunidade de poder dizer: “Olá, estou aqui!”, “Como vai?”, “Saudades”.

Escrevo para você que me lê neste momento. Não tenho a pretensão de ensinar nada nem dar lições a ninguém, quero somente brincar com as palavras e questionar as atitudes que tomamos diante da vida. Gostaria de chacoalhar cérebros adormecidos, inclusive o meu. Vamos ler!

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