ARTICULISTAS

Pequenas alegrias

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 18/05/2021 às 14:07Atualizado em 19/12/2022 às 03:41
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Poder voltar pra cama se está frio ou chovendo, nem que seja por meia horinha… Lá fora, o céu nublado, a chuva despenca, você vai se encharcar da cabeça aos pés, molhar os sapatos, o vento frio vai gelar os ossos, mas só de saber que é possível aproveitar mais meia hora, isso é muito bom! Por que não?

Poder ficar à mesa, à vontade, conversar com os amigos, mesmo se a refeição terminou, apenas para ouvir boas histórias, recordar-se de acontecimentos memoráveis e de situações felizes. Poder trocar informações, contar causos, falar de novos projetos ainda que seja tarde da noite, é muito bom! Por que não?

Saber que a louça é fácil de resolver e que você terá ajuda de todos, não importa a hora em que se levantarem da mesa. Melhor ainda é saber que você terá a opção de deixar para amanhã, sem cobranças ou dramas, isso é muito bom! Por que não?

Ter escolhido um livro que te seduziu desde as primeiras páginas é tão bom quanto saber que você poderá terminar a leitura quando quiser: agora, mais tarde ou nunca. Caso queira aproveitar cada palavra, cada página, quantas vezes desejar, basta continuar lendo, sem parar. É tão bom ler até vir o sono ou até o dia raiar, sem ninguém para reclamar e mandar interromper a leitura. Poder chegar ao final do livro encantado com o que leu, admirando o enredo, pensativo, apesar do sono, isso é muito bom! Por que não?

Sem compromissos urgentes, sem tarefas pendentes, passar um tempo, umas horas ou o dia inteiro, numa praça, num parque ou num jardim, é muito bom. Sentar-se num banco sombreado, ouvir os pássaros e observar o vento movimentar as folhas das palmeiras, sem susto, sem medo, sem pressa. Poder admirar o colorido das flores e das borboletas, sem ninguém para te incomodar, isso é muito relaxante! Por que não?

Pequenas alegrias, distrações simples e outras suavidades poderiam estar mais disponíveis no cardápio da vida, no cotidiano de cada um, de todos nós, sem sobressaltos, sem descuidar da ciência, da arte e do futuro das crianças. Tudo isso seria um ganho fundamental! Por que não?

Precisamos de comida em excesso? De fome? De farmácias em cada esquina? De dor e destruição causadas por ignorâncias? Precisamos de distrações vazias que nada acrescentam à vida?

Há de ser muito bom quando você puder sair na chuva feito criança, se molhar, curtir cada gota segurando a mão de quem você gosta e sentir a água escorrendo pelo rosto, pelo corpo. Observar a água purificar o ar poluído da cidade, lavar as calçadas, a enxurrada escorrer mansa pelas ruas e avenidas, encher os rios, abastecer os reservatórios, infiltrar-se no solo e irrigar as raízes profundas das grandes árvores, renovando a vida. Será muito bom! Por que não?

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