Corta! Está é a expressão favorita das pessoas que odeiam árvores. Sem nunca terem estudado biologia, botânica, dendrologia ou silvicultura, acham-se entendidas, consideram-se especialistas, embora sua teoria e prática estejam restritas ao corte e/ou à poda. Poda radical, é claro!
Não gostam das árvores por várias razões e dizem que motivos não faltam. Um dos argumentos mais repetidos refere-se à “sujeira”, isto é, às folhas que caem. Essas pessoas não pensam duas vezes antes de atirar lixo pela janela, são consumidoras vorazes de plásticos, adoram embalagens descartáveis, não se importam com a poluição do ar e das águas, mas decretam sem constrangiment “folhas sujam!”. Não estão preocupadas com reciclagem, reúso, reaproveitamento, etc. Na verdade, pouco se importam com os ciclos naturais, não ligam para as estações do ano, são ranzinzas e, acima de tudo, desconhecem o assunto.
Pessoas que odeiam árvores também não costumam gostar de pássaros, salvo se estiverem presos em gaiolas ou empalhados. Não gostam de ouvi-los, de admirar suas cores, seus ninhos e seu voo. Não pensam duas vezes antes de esmagar um inseto, de chutar um cachorro, de maltratar um animal acuado. Não aceitam e não compreendem a diversidade natural. Seu alcance cognitivo não vai muito além do óbvio, toda diversidade as incomoda e as deixa acabrunhadas por incapacidade de observação, pânico e incompreensão com o mundo que nos cerca. Enxergam o mundo segundo o espelho, seus medos, seu horizonte restrito, sua visão limitada. Provavelmente, nunca subiram numa árvore quando crianças, nunca comeram frutas no pé, nunca namoraram ou leram um livro sob uma sombra carinhosa. Devem se sentir tristes e retraídas, porém dispostas a reprimir quem pensa diferente.
Pessoas que odeiam árvores têm medo delas. Medo de que os galhos caiam sobre a cabeça delas, o carro, a casa, as posses. Valorizam mais as coisas do que as pessoas, os animais, as plantas, as flores, as infinitas paisagens do planeta. Por isso, não ligam para viagens, principalmente se for a parques e a áreas naturais. Por consequência, não apoiam a criação de reservas naturais, não se interessam por temas ligados à preservação da fauna e da flora, não se incomodam com venenos nem com o desmatamento.
Odeiam árvores, mas amam o asfalto, a aridez dos quintais cimentados, o sol escaldante na cacunda dos outros. Não costumam se afastar muito de salas com o ar-condicionado ligado, de ambientes controlados, vigiados, higienizados, perfumados artificialmente com essências que, contraditoriamente, imitam essências florestais. Não conseguem estabelecer correlações entre a presença das árvores e a existência da água, a proteção das nascentes e dos mananciais proporcionada pelas folhas que caem e pelas raízes que agregam as partículas do solo. Não é apenas questão de estética, preferência individual ou intolerância, mas, em muitos casos, mero interesse pessoal, negócios.
Renato Muniz B. Carvalho