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Raios e trovões

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 14/12/2020 às 18:27Atualizado em 18/12/2022 às 11:29
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Uma das coisas que mais apavoram os moradores do meio rural são os raios. Raios, relâmpagos e trovões costumam assustar mais do que o frio intenso, as chuvas fortes, as geadas, a seca brava, o calor e o vento, sem falar das cobras, é claro! Embora os efeitos adversos e até fatais das descargas elétricas atinjam tanto o campo quanto a cidade, é no campo que os diversos fenômenos climáticos costumam assombrar mais seus habitantes.

São comuns as narrativas arrepiantes sobre os raios. Algumas viraram lendas e transformaram-se em relatos de difícil comprovação. Muitas não passam de crendices e resultam de séculos de desinformação e disseminação do medo. Fazem parte de estratégias para dificultar a superação de problemas históricos no entendimento dos fenômenos naturais e contribuem para a precarização constante das condições de vida de parte da população. Uma dessas estratégias é atribuir às descargas atmosféricas explicações divinas e inexpugnáveis aos seres humanos. Comentários fantasiosos e milagrosos sobre os raios, bem como as confusões e as ambiguidades espalhadas sobre seus feitos catastróficos, fazem parte do imaginário popular há muito tempo. Por outro lado, existem boas pesquisas científicas, nas áreas da física, da geografia, da climatologia ou da meteorologia sobre esses fenômenos. Estudos atuais realizados em centros de pesquisas trazem luz sobre o tema, com o perdão do trocadilho. Que essas pesquisas possam contribuir para a diminuição das mortes e dos danos materiais num futuro próximo.

Devido à violência, os acidentes com raios chamam a atenção do público e despertam o interesse da mídia. No meio rural, não são raros os casos de mortes de reses eletrocutadas durante chuvas com raios. Em alguns casos, chegam a atingir dezenas de animais. Também acontecem acidentes com postes, torres, árvores e construções diversas, acarretando prejuízos humanos e materiais. Mesmo assim, não é de se estranhar a admiração de quem assiste ao espetáculo dos relâmpagos no céu.

O Bastiãozinho, vaqueiro de elevada distinção que trabalhou na fazenda do meu avô, um dia me disse que tinha uma pedra de raio. Quem ficou espantado fui eu: “Como assim, Tiãozinho? Que raio de pedra é essa?”. E ele foi buscar para me mostrar. Perguntou-me se valia muito, mas não pretendia vender, pois se considerava protegido sendo o feliz possuidor de uma pedra tão notável. Ter a tal pedra e saber onde os raios tinham caído na fazenda, faziam dele uma pessoa destemida, e garantia: “Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar!”.

Se as superstições representam um atraso de vida, pior é a falta de investimentos em pesquisas científicas e em educação capazes de melhorar as condições de vida da população. Se o Bastiãozinho estava certo e um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, o Brasil, superada essa fase difícil e nefasta da sua trajetória política atual, será um país melhor. Tomara!

Renato Muniz B. Carvalho

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