Ouço com frequência uma pergunta: “quantos livros você já leu?”. Aí bate uma dúvida constrangedora: e eu lá sei? Faço as contas, mas é difícil chegar a um resultado satisfatório. Vejamos: o primeiro livro foi aos sete anos de idade; comecei devagar, um por ano, mas teve ano em que li trinta, quarenta livros ou mais. Teve ano em que fui mais lento, um por mês, talvez menos.
Por quê? Não sou uma máquina de ler e nunca fiz curso de leitura dinâmica. Teve livro que li duas vezes ou mais; teve livro que parei na metade – esses contam?
Ler me ajudou muito, mas não me fez melhor nem pior do que as outras pessoas. Jamais imaginei a leitura como um indicador de inteligência ou de esperteza. Li tanto por prazer como por obrigação. Sim, como milhares de estudantes, fui obrigado a ler livros ditos “obrigatórios”, seja porque as autoridades assim estipulavam ou porque ia “cair no vestibular”, ia “cair na prova”.
Quanta gente não foi atrás de resumos dos tais livros, de filmes, de peças de teatro, por não gostar de ler, por estar com preguiça, não ter sido suficientemente estimulada ou não ter acesso aos livros? Que perda de tempo! Ler o livro vem antes, anos-luz antes de qualquer sucedâneo.
Outra pergunta recorrente diz respeito às recomendações de leitura: “Que livro você me indica?”. Responder é mais ou menos como sugerir um vinho, um carro ou uma viagem. Que vinho você prefere? Tinto, branco, rosé? Brasileiro, chileno, argentino, francês, português, espanhol? Carro conversível? Carro econômico? Picape? Utilitário? Qual a viagem de seus sonhos? Lua de mel em Cancún? Viagem com as amigas, com os amigos? Um cruzeiro marítimo? Uma viagem de camelo no deserto do Saara? Peregrinação pelo Caminho de Santiago de Compostela ou romaria até o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida? Viagem ao litoral no feriadão? Tenho pena dos sommeliers e dos agentes de viagem. No caso dos livros, respondo com prazer e interesse. Pergunte! Tenho mil sugestões. Não podemos desperdiçar uma oportunidade de leitura.
Tem gosto pra tud romance, conto, poesia, crônica; são inúmeros os gêneros literários. Tem quem goste de romance policial, outros preferem contos de terror; não há o melhor ou o pior, a não ser o interesse ou a necessidade de quem vai ler, considerando se são livros científicos, técnicos ou de filosofia, sem esquecer os manuais de carpintaria e os livros de culinária.
Meu conselho preferid leia! Leia no ônibus, leia no banheiro, leia antes de dormir, leia nas férias, leia junto com a sua turma. Leia e não deixe de comentar; leia e, se possível, passe adiante, divulgue. Não guarde só para você; divida com outras pessoas o prazer da leitura!
Renato Muniz B. Carvalho