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Roteiro urbano

Lincoln Borges de Carvalho (1928 – 2013) foi um advogado, empresário e escritor uberabense

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 08/04/2018 às 12:59Atualizado em 16/12/2022 às 04:57
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Lincoln Borges de Carvalho (1928 – 2013) foi um advogado, empresário e escritor uberabense. Faria 90 anos no dia 10 de abril. Como escritor, teve uma trajetória peculiar, sempre discreto, avesso a homenagens e a formalidades sociais, evitava até mesmo debater seus escritos. A leitura de sua obra pode ajudar a compreender o mundo em que viveu.

Na literatura, dedicou-se ao conto, gênero que apreciava, entendia e sobre o qual gostava de dar conselhos. Publicou três livros de contos e um livro de memórias, este último abrangendo o período de 1946 a 1949, quando morou em São Paulo, até ingressar no curso de Direito da UFMG e se mudar para Belo Horizonte. Ficou na capital mineira um ano e voltou a São Paulo, para concluir o curso na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Casou-se em 1955 e retornou definitivamente a Uberaba.

Escrevia ficção desde os tempos do colégio, mas não guardou nada desse período. Um dia, disse que tinha escrito poemas, como não lhe agradassem, desfez-se deles. Acompanhava atentamente o desenvolvimento econômico da região do Triângulo Mineiro, lia teses e estudos sobre seu povoamento, estimulava pesquisadores a estudar a história e a política regional, acompanhava publicações e estatísticas sobre as cidades do Triângulo, mas ele próprio não escreveu nada sobre isso. Sua biblioteca, com cerca de seis mil exemplares, era composta por diversos tipos de livros. Alguns eram jurídicos, embora confessasse seu desinteresse pela advocacia, tendo optado por não exercer a profissão, exceto em raríssimas ocasiões. Uma parte eram obras gerais, livros de história, sociologia, filosofia, teatro, etc. Outra parte eram livros de literatura, brasileira e mundial, com destaque para livros de contos.

Muito ligado, por suas origens familiares, ao meio rural, evitou escrever sobre esse assunto e suas nuances. Quais eram seus temas prediletos? Uma possível resposta encontra-se numa frase do seu livro de memórias, “Roteiro Cinza”: “São Paulo, a cidade que me moldou”. O fato é que, em seus escritos, predominam passagens e paisagens urbanas, os relacionamentos, o sexo, as desilusões amorosas típicas de solitários habitantes dos centros urbanos.

Nos livros “Noite Feliz”, “Programa de Domingo” e “Casos Urbanos” encontram-se reunidos seus contos. Trabalhou neles o tempo todo em que pôde se dedicar à literatura, até o fim da vida. Um sarcasmo agudo dirigido aos que vivem o cotidiano sem percepção crítica e, quase sempre, a denúncia sutil de uma realidade impregnada de preconceitos e amores escondidos, conecta todos eles. Um aspecto que se destaca é a percepção contundente, um tanto ácida, que desenvolve sobre as relações superficiais, as respostas simplistas para inquietações corriqueiras, como a doença, o dinheiro, a morte. O que sua escrita indica é uma vontade constante de desafiar a tristeza, de vencer o óbvio e o conservadorismo tão característicos do seu tempo. Acima de tudo, ele soube contar histórias cuja leitura vale a pena.

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